Um fardo disfarçado de representação
Com as eleições se aproximando, é essencial que o eleitor reflita sobre questões que impactam diretamente sua vida — e o custo do Poder Legislativo é uma delas. Muito além dos debates partidários, entender como os recursos públicos são utilizados para sustentar a estrutura parlamentar é um passo fundamental para exercer o voto com consciência. Afinal, cada cidadão financia, por meio de impostos, um sistema que deveria servir à sociedade, e não se servir dela.
A análise do custo da representação política nas democracias desenvolvidas revela uma métrica reveladora: a relação entre os gastos com parlamentares e a renda média da população. Nos Estados Unidos, manter um congressista consome cerca de 40 vezes a renda média anual de um trabalhador. Na Alemanha, esse índice gira em torno de 30 vezes.
No Brasil, essa proporção é alarmante: o custo de cada parlamentar equivale a aproximadamente 500 vezes a renda média anual do cidadão comum. Essa disparidade não decorre de falhas orçamentárias, mas de um modelo institucional que permite ao próprio Legislativo definir seus gastos e remunerações. A autonomia orçamentária e a prerrogativa de iniciativa legislativa criam um sistema em que as despesas se expandem sem correspondência com a capacidade arrecadatória do Estado.
Esse arranjo não é fruto do acaso, mas da consolidação de privilégios. O foco das despesas não está nos salários, mas na proliferação de benefícios indiretos: cotas, reembolsos, verbas para contratação de pessoal e manutenção de atividades parlamentares. Ao contrário do modelo alemão, que prioriza equipes técnicas concursadas, o Congresso brasileiro opera com amplas verbas discricionárias, sustentando estruturas voltadas à autopromoção e à manutenção do poder, em detrimento da qualificação e da eficiência.
Além de comprometer o orçamento público, esse sistema favorece a perpetuação de dinastias políticas. Muitos parlamentares são herdeiros de famílias que historicamente concentraram poder e, em grande parte, não possuem experiência profissional fora da esfera pública. Embora legitimados pelas urnas, carecem de vivência que os habilite a compreender e representar os interesses da maioria da população. A ausência de experiência no setor produtivo limita sua capacidade de legislar com sensibilidade social e responsabilidade econômica.
Essa desconexão entre representantes e representados se reflete na baixa qualidade da produção legislativa. O elevado custo por parlamentar não se traduz em excelência institucional. As pautas se desviam das reformas estruturais e se concentram em iniciativas localistas e de interesse pessoal. O resultado é um Legislativo que, comparado a seus pares internacionais, entrega pouco e custa muito. A manutenção de uma estrutura que favorece o status quo evidencia que o Parlamento brasileiro opera mais como mecanismo de autoconservação do que como instrumento de serviço público.
É urgente reestruturar esse modelo. O custo do Legislativo deve ser compatível com a realidade econômica do país. A profissionalização das equipes de apoio, com ingresso por mérito e concurso público, é essencial para substituir práticas clientelistas e elevar a qualidade técnica da atuação parlamentar. O Poder Legislativo precisa reconquistar sua legitimidade, cumprir seu papel.
É hora de o cidadão deixar de ser espectador e assumir seu papel como fiscal da democracia. O voto não é apenas um direito — é um instrumento de cobrança. Cada eleitor deve exigir de seus candidatos compromisso com a responsabilidade fiscal, com a transparência e com a qualificação técnica do Legislativo. É preciso perguntar, cobrar, acompanhar e denunciar os desvios. Parlamentares não são donos do mandato: são servidores públicos temporários, pagos com o esforço de milhões.
Nas próximas eleições, não basta escolher nomes — é preciso escolher posturas. Quem não se compromete com a reforma da estrutura legislativa, com a redução de privilégios e com a profissionalização da máquina pública, não merece o voto. O Brasil precisa de representantes que honrem a confiança popular e que estejam dispostos a servir à nação — e não, dela se servir
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA