Jubileu 75: HU e a esperança por medicina de qualidade no SUS - I
Texto de Célio Rodrigues – Diretor-superintendente do Hospital Universitário da Faculdade de Medicina de Alagoas
O sol cintila no céu de Maceió, mas, para muitos alagoanos, a cor cinza predomina na frieza dos corredores superlotados por atendimento médico. Em meio a essa realidade desafiadora, o Hospital Universitário (HU) emerge como um farol da Faculdade de Medicina de Alagoas/UFAL, espraiando qualidade dentro do Sistema Único de Saúde (SUS).
Nesse cenário, o HU, com sua vocação para o ensino, a pesquisa e a assistência de alta complexidade, se sobressai. O impacto positivo do HU em diversas áreas está à vista — seja nos transplantes de córnea, que devolvem a luz da visão, nos tratamentos oncológicos ou nos procedimentos de alta complexidade que salvam vidas. A presença de profissionais qualificados, muitos deles diretamente ligados ao quadro de professores da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Alagoas (UFAL), garante um nível de expertise que nem sempre é encontrado em outras unidades da rede.
A articulação entre ensino e serviço, característica intrínseca a um hospital universitário, fomenta a atualização constante de práticas e a incorporação de novas tecnologias. Muitos oriundos dessa escola, agora homenageados no Jubileu dos 75 anos.
Sadi Carvalho, paradigma da cardiologia humanista, está na lista dos condecorados e se expressou:
“Senti-me surpreso, honrado e extremamente grato. Depois de tantos anos, não esperava ser escolhido simbolicamente como um dos representantes de inúmeros alunos e professores que trilharam esse nobre caminho, em épocas diferentes, com o mesmo objetivo de ajudar o próximo. Posso sentir que a bondade e a amizade verdadeira pesaram para que eu fosse um dos escolhidos, porque, como muitos de vocês, apenas procurei dar aos que precisaram de mim o melhor que estava ao meu alcance — e, às vezes, achando que poderia ter feito mais.”
É preciso reconhecer que o HU, por si só, não pode suprir todas as demandas de saúde de um estado com as dimensões e necessidades de Alagoas. A construção de uma medicina de qualidade no SUS passa, necessariamente, pelo fortalecimento de toda a rede, desde a atenção primária até os hospitais de menor complexidade.
O núcleo de telemedicina e telessaúde chegou em 2006, e jamais imaginaríamos o impacto positivo que traria, com teleconsultas e orientações às famílias trucidadas na recente pandemia de SARS-CoV-2. No entanto, a realidade do SUS em Alagoas impõe desafios consideráveis ao HU. A falta de recursos financeiros adequados, a sobrecarga de pacientes e a dificuldade em articular a rede de atenção básica são obstáculos que impactam a qualidade e a agilidade do atendimento.
O prof. dr. José Wanderley Neto, que implantou a cirurgia cardíaca em Alagoas e criou a disciplina eletiva de cirurgia cardiotorácica na nossa escola, estimulou cerca de 200 jovens médicos a optarem pela cardiologia como especialidade. Ao ser comunicado de que seria agraciado com a Medalha do Mérito Universitário, disse:
“Essa solenidade tem o sentido de mostrar a grandeza institucional da Ufal e sua importância para os alagoanos. A minha presença tem o significado de representar uma geração que foi formada na instituição e levou esse conteúdo para ajudar as pessoas. Eu, de aluno, passei a professor da Ufal e convivi com outras gerações. A generosidade dos que conduzem a instituição fez com que eu pudesse ser escolhido entre tantos.”
E concluiu:
“O sentimento é de profundo agradecimento à instituição que me formou, educou e deu sentido à minha vida.”
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA