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Odilon Rios

Odilon Rios é jornalista, editor do portal Repórter Nordeste e escritor. Autor de 4 livros, mais recente é Bode Pendurado no Sino & Outras Crônicas (2023)

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Apoiador da ditadura, Rui Palmeira assistiu prisão do filho

02/11/2024 - 06:00

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Mudanças de regime políticos ou presidentes da República também representavam debandada da maior parte da classe política alagoana. Lógico: para o lado que detinha mais força e prestígio em Brasília. Mas no caso do experiente senador Rui Palmeira, as delícias do poder também significaram amargar os efeitos da ditadura – e dentro de casa.

Em 1960, Rui foi relator da escolha do diplomata Hugo Gouthier para a chefia da embaixada brasileira em Roma. Quatro anos depois, Gouthier foi o primeiro diplomata brasileiro a ser cassado pela ditadura, regime apoiado por Rui. Ele vinha de uma carreira política impressionante: duas vezes deputado, duas senador até chegar a vice-presidente do Senado, aos 58 anos.

Em 2 de agosto de 1968, o filho Vladimir foi preso. Ligado a uma dissidência do PCB da Guanabara, Vladimir era o mais importante líder estudantil do Rio de Janeiro e um dos principais organizadores da Passeata dos Cem Mil, a histórica marcha contra os militares. A prisão era nitroglicerina pura. E levou estudantes para as ruas, em protesto. Na sede do Departamento de Ordem Política e Social (Dops), a ordem era negar que Vladimir estava preso, enquanto um forte esquema de segurança era montado para interditar o acesso a todas as dependências do órgão de repressão.

Duas condições tornavam Vladimir importante naquele momento: sua fama de liderança jovem e estratégica no movimento estudantil e ser filho do vice-presidente do Senado. O próprio presidente Costa e Silva reconhecia a posição de Vladimir naquele momento: “Afinal o rapaz está preso porque acredita num ideal e não vacilou em lançar-se à ação para realizá-lo.” Mas Costa e Silva também reconhecia que as circunstâncias da ação do estudante precisavam ser melhor esclarecidas.

Em 3 de agosto, Rui Palmeira conseguiu conversar com o senador Mario Martins, que havia conseguido um encontro com Vladimir. Dona Gabi, mãe de Vladimir, estava doente, sem notícias e temia pela vida do filho. Naquela altura, os “sumiços” provocados pelos militares, dos dissidentes do regime eram famosos. Martins tranquilizou o pai e disse que o filho pediu que ele cuidasse da própria saúde e da esposa. Meses antes, em viagem para uma reunião da União Internacional de Parlamentares, em Paris, Rui precisou ser internado às pressas no hospital Saint-Cloud. Tinha uma forte dor no estômago. Descobriu um câncer.

Argolo de Sá, assessor de Rui, ligou para o Dops mandando transmitir o recado do pai: não aceitava que Vladimir fosse tratado de forma privilegiada, mas exigia dignidade. Também receberia toda a assistência material que precisasse. Vladimir pediu sabonete, pasta de dentes, escova, duas toalhas, livros e jornais, além dos remédios contra asma, Sonrisal, Optalidon, biscoitos, maçã e algum dinheiro.

Em 22 de agosto de 1968, Rui Palmeira subiu na tribuna do Senado e fez um longo e emocionado pronunciamento em defesa do filho Vladimir. Entendia seus sonhos, ao mesmo tempo elogiava o governo dos militares, mas também demonstrava a própria frustração com os rumos do poder. Na prisão, Vladimir demonstrava preocupação com a saúde do pai. Estava preso quando conseguiu, através de interferência do ministro Mário Andreazza, visitar Rui duas vezes. Uma em 15 de dezembro e a última, horas antes da morte do senador, na manhã do dia 16. Rui estava em coma há dois dias. Morreu às 13h40, aos 58 anos.

Segundo o Jornal do Brasil de 18/12/68, Vladimir chegou às seis da manhã para o funeral, cujo corpo era velado no Palácio Monroe, antiga sede do Senado Federal no Rio e demolido em 1976. Estava com os cabelos assanhados, vestindo uma camisa de malha azul, calça de brim branca e sapatos de lona, sem meias. Abraçou a mãe, dona Gabi, e a esposa, esforçando-se para não chorar. Os irmãos Guilherme e Moacir chegaram uma hora depois. Guilherme deixou cair uma lágrima.

Após o velório, o corpo seguiu para Alagoas em avião da FAB, para ser enterrado no Engenho Prata, na cidade de São Miguel dos Campos. Vladimir seria preso novamente até deixar o Brasil em 1969. A ditadura apertava o cerco.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA


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