Olhar da Ditadura Sobre Arnon e a Gazeta
A TV Gazeta de Alagoas completa 50 anos em 27 de setembro. É a quinta afiliada da Globo mais antiga do país. Hoje enfrenta problemas na Justiça porque a Globo quer interromper a parceria, mas, no passado, o dono da emissora, o senador Arnon de Mello, tinha desafios bem maiores com a ditadura, apesar de ser um entusiasta do regime que acompanhava seus passos com desconfiança.
Em maio de 1973 entrou com pedido, na Secretaria Geral do Ministério das Comunicações, para explorar radiodifusão e TV em Maceió. O presidente Ernesto Geisel autorizou a concessão um ano depois, em 16 maio de 1974. A inauguração foi no dia 27 de setembro de 1975, um sábado, oito dias após o aniversário de 64 anos de Arnon.
Enquanto isso, era investigado pelo Serviço Nacional de Informações, o SNI, por:
abrigar elementos considerados subversivos pelo regime tanto na rádio Gazeta quanto no jornal Gazeta de Alagoas;
ter oferecido apoio material e financeiro ao Grupo Opinião – teatro de protesto e resistência aos militares – que em 1966 exibia espetáculo no Teatro de Arena, nessa época localizado na Rua Siqueira Campos, número 139, em prédio pertencente ao senador; e
- ter viajado em 1966 para “países da Cortina de Ferro”, ou seja, sob regime comunista.
Um dos informantes da ditadura era o também senador Silvestre Péricles. A rivalidade política com Arnon virou ódio. Em 4 dezembro de 1963, ele sacou uma arma no plenário do Senado, mirou e atirou em direção a Silvestre. A bala atingiu o senador José Kairala.
Em agosto de 1964, Péricles municiou a ditadura com detalhes sobre a vida de Arnon, além do próprio SNI, mais tarde, realizar o seu levantamento, porém sem denunciar o senador pelos crimes que o acusavam.
Por exemplo: Arnon foi acusado de enriquecer após ter se tornado governador de Alagoas, através de execução de obras públicas, além do tráfico de maconha (não fica clara a conexão entre o senador e a droga); acobertar 900 crimes ocorridos em sua gestão; agir em conexão com os Calheiros, tratados como “responsáveis por uma série de crimes e roubos”.
Fato é que os relatórios elaborados pelo regime militar sobre Arnon de Mello tratam o senador como uma personalidade dúbia, talvez uma estratégia em nome da sobrevivência política, ou seja, transitando bem entre as lideranças políticas e até no MDB, oposição ao regime, recado explícito de força eleitoral.
Embora fosse tratado como criminoso em documentos internos do SNI, mesmo eles também revelavam uma certa admiração e respeito (ou temor) por Arnon.
É chamado de “hábil empresário” e um cavalheiro, de fino trato, ponto também descrito pelos inimigos de Arnon e também “grande prestígio” entre os políticos estaduais.
Em setembro de 1970 ele procurou o comandante do Exército em Alagoas para avisar que apenas ele e o ex-governador Luiz Cavalcante teriam condições de vencer as eleições ao Senado, o que de fato aconteceu. Cavalcante, até ali, era um inimigo político. Se as rusgas entre eles deixaram de existir? Os documentos guardados no Arquivo Nacional não seguem adiante neste ponto. A política também é costurada pelos interesses. Justificados como as regras do jogo.
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA