colunista

Odilon Rios

Jornalista, editor do portal Repórter Nordeste e escritor. Autor de 4 livros, mais recente é Bode Pendurado no Sino & Outras Crônicas (2023)

Conteúdo Opinativo

Sangue e um morto no plenário da Assembleia

06/09/2025 - 06:00
A- A+

Em 13 de setembro de 1957, o prédio da Assembleia Legislativa recebeu uma saraivada de tiros no plenário e do lado de fora. Sacos de areia repousavam ao lado do busto de Tavares Bastos, estacionado logo à direita da escadaria principal de madeira, no primeiro andar, onde até hoje ocorrem as sessões do parlamento estadual.

No plenário, feridos. Muitos. Um deputado foi assassinado com um tiro pelas costas: Humberto Mendes. A sessão daquele dia era para discutir o impeachment do governador Muniz Falcão. O saldo, porém, foi sangue, manchetes nos principais jornais do país e intervenção federal decretada pelo presidente Juscelino Kubitschek.

O pedido de impeachment foi apresentado pelo deputado Oséas Cardoso. Eram cinco denúncias: atentado ao funcionamento da Assembleia, pressão do governador sobre juízes e deputados, despesas não autorizadas e infração à lei federal de ordem pública.

O professor Douglas Apratto Tenório em seu livro A Tragédia do Populismo reconstitui aquele momento. As elites rechaçavam o populismo de Muniz, defensor de medidas sociais. Os deputados representavam os interesses dos mais ricos. A oposição na Assembleia a Muniz formava a maioria: 22 dos 35 deputados. Maior parte ligada ao setor canavieiro, que alguns anos depois (1964) ajudou a bancar o golpe militar no país.

“Por volta das duas e meia, um jornalista gritou da janela ‘Lá vêm eles’ quando chegavam Claudenor Lima, Luiz Malta, Abraão Moura, Humberto Mendes, sogro do governador, e seu filho Walter.

“Mal entraram, ambos os lados com os nervos à flor da pele, quando ainda não estava votada a denúncia, ouviu-se um tiro seco que deu início à violenta fuzilaria.

“Uma pequena pausa, 92 rajadas de metralhadoras e tiros recomeçaram com fragor. Os dois lados já estavam na luta.

“Em frente à Assembleia, na Praça Pedro II, multidão que estava reunida em comício, após passeatas em vários pontos da cidade, manifestando apoio ao governador, entrava em debandada”.

O povo, em desespero, subiu a Ladeira da Catedral. Foram 40 minutos de tiros. “Ouviam-se disparos vindos das ruas, enquanto balas pipocavam por todos os lados no recinto da Assembleia, enquanto pedidos de socorro surgiam dos muitos feridos”.

Mil tiros disparados, muitos de fora para dentro. Gritos de socorro. No plenário, sangue.

“Vários feridos e em estado grave os deputados Carlos Gomes, José Afonso, Virgílio Barbosa e José Onias, o jornalista carioca Márcio Moreira Alves e o funcionário Jorge Dâmaso. Morto, com um tiro nas costas, o deputado Humberto Mendes. A Polícia Militar havia se retirado. As tropas do Exército, só no final do tiroteio, intervieram, ingressando no local e tomando providências apaziguadoras”.

“O interior do prédio ficou completamente danificado, o edifício foi isolado, apresentando cenas espectrais, mobiliário fragmentado, vidros estilhaçados, as vítimas se contorcendo, embora segurando firmemente as armas. Não era um parlamento, era um teatro de guerra depois da batalha”.

Sete anos depois, o golpe de 64 justificou tudo. Até o fim da eleição direta.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA


Encontrou algum erro? Entre em contato