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Odilon Rios

Jornalista, editor do portal Repórter Nordeste e escritor. Autor de 4 livros, mais recente é Bode Pendurado no Sino & Outras Crônicas (2023)

Conteúdo Opinativo

Para fortalecer arena, ditadura apoiou massacre

19/07/2025 - 06:00
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Para evitar a chegada do MDB ao Governo de Alagoas e o consequente enfraquecimento da Arena, os generais da ditadura promoveram uma ampla campanha de apoio ao coronel Amaral, secretário de Segurança nos governos Divaldo Suruagy e Guilherme Palmeira nos anos 70.

O coronel já era acusado pela imprensa e pelo cabo Henrique de acobertar esquadrões da morte que executaram mais de 300 pessoas, muitas delas sumidas, queimadas ou desovadas no terreno da antiga fábrica da Coca-Cola, no Distrito Industrial, parte alta de Maceió.

Amaral era ligado a Suruagy. O sucessor Palmeira manteve o coronel na SSP, como parte do acordo político.

A OAB, apoiada por membros da bancada federal alagoana além do Jornal de Alagoas e o Semanário Desafio, se uniram para pressionar pela demissão de Amaral. O Serviço Nacional de Informações, o SNI, registrou a movimentação: “(...) vêm fazendo campanha contra o Coronel JOSÉ DE AZEVEDO AMARAL, com o objetivo de desgastá-lo perante a opinião pública alagoana e afastá-lo do cargo de Secretário de Segurança Pública”, em informe de 30 de outubro de 1979.

Amaral era elogiado pelos militares de alta patente em Brasília. Afinal, tinha um lema simples: “Bandido bom é bandido morto”. Lógico, os bandidos mortos eram escolhidos a dedo. Os desafetos viravam areia de cemitério.

O SNI reconhecia que o coronel, mesmo acusado de acobertar crimes, tinha de permanecer à frente da SSP, por causa do acordo Suruagy-Palmeira.

“Ocorre que, se o Secretário de Segurança Pública for afastado do cargo, poderá haver uma cisão entre aqueles dois [Suruagy e Guilherme] últimos, causando dessa forma um grave enfraquecimento no partido governista alagoano, com consequente fortalecimento do MDB estadual”, consta no dossiê, trazendo ainda os feitos da SSP, como investimentos, apuração de inquéritos, avanço de investigações.

“A atuação do tenente coronel JOSÉ DE AZEVEDO AMARAL à frente da SSP/AL vem sendo considerada muito boa, notadamente, por órgãos existentes no Estado, ligados à segurança. Além de exercer com bastante dinamismo e dedicação o cargo, é enérgico e intransigente no cumprimento de suas atribuições”.

Amaral era um colaborador assíduo do regime. Repassava informações sobre os opositores, mas também “limpava” as fichas de supostos subversivos. Era o caso de Murilo Rocha Mendes e José de Melo Gomes. O ex-secretário morreu na semana passada, aos 98 anos.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA


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