Jornalista, escritor, colunista do Jornal Extra, Tribuna do Sertão e presidente do Instituto Cidadão.

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Eles brigam e a gente paga a conta

04/12/2025 - 09:37
Atualização: 04/12/2025 - 09:39
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O embate pelo protagonismo político entre Arthur Lira e Renan Calheiros já ultrapassou todos os limites do razoável e se transformou numa disputa pessoal que custa caro demais para Alagoas. O mais recente reflexo dessa guerra de vaidades é um prejuízo estimado em mais de R$ 300 milhões, dinheiro que deveria estar financiando obras, programas, desenvolvimento regional e políticas públicas essenciais, mas que desaparece na fumaça tóxica de uma rivalidade improdutiva. A briga não tem nada de ideológica ou programática. Não é por reformas, projetos ou por Alagoas. Trata-se de puro poder: quem manda mais, quem controla mais verbas, quem domina Brasília e quem consegue demonstrar maior força política em ano pré-eleitoral. Uma disputa infantil, desgastante e corrosiva que só prospera porque os envolvidos sabem que o custo final não sai de seus bolsos, mas do povo, sempre do povo. Arthur Lira age como se a Câmara dos Deputados fosse uma extensão de seu território privado, onde apoios, recados e pressões são distribuídos de acordo com seus interesses, enquanto Renan Calheiros opera com a frieza de quem domina o jogo há décadas e sabe como mover as peças sem fazer barulho. Dois gigantes políticos movidos por estratégias distintas, mas unidos por um traço comum: ambos parecem ter esquecido que Alagoas existe.

O prejuízo de mais R$ 300 milhões não é mero número: é a soma de convênios travados, obras paralisadas, recursos represados e projetos inviabilizados simplesmente porque um adversário não pode ser beneficiado. Em Alagoas, se o prefeito é alinhado a um lado, o outro boicota. Se a obra tem a assinatura do rival, a verba não chega. Se o adversário pode capitalizar politicamente, o projeto cai na gaveta. A política vira sabotagem institucional e o Estado vira refém de uma rinha parlamentar que nada acrescenta à população. E quem perde? Os mesmos de sempre: as famílias que dependem da saúde pública, os alunos que estudam em escolas sucateadas, os prefeitos do interior que precisam de emendas para manter obras básicas, os pequenos empresários que esperam infraestrutura para trabalhar. Um Estado pequeno como Alagoas não tem musculatura para esse tipo de guerra. Cada atrito entre Lira e Renan empobrece o Estado um pouco mais. Falta receita própria, falta autonomia fiscal e falta responsabilidade política sobra vaidade, sobra disputa, sobra desprezo pelo impacto coletivo.

O mais trágico é que há quem comemore o prejuízo desde que o adversário “perca” mais. Nesse jogo bruto, o bem-estar da população é apenas efeito colateral. Enquanto os gladiadores digitais discutem quem “manda mais”, o Estado afunda em atrasos, cortes e frustrações. Obras deixam de ser executadas, investimentos evaporam e Alagoas volta a ser o mesmo território vulnerável que sempre dependeu da boa vontade de Brasília. O povo está cansado, e com razão. Alagoas não precisa de donos, precisa de gestores. Precisa de líderes que compreendam que política é ferramenta de desenvolvimento e não arma de vingança. Precisa de trabalho, não de espetáculo; de acordos institucionais, não de retaliações pessoais.

O Estado não suporta mais essa disputa permanente. E é vergonhoso que, em pleno século XXI, ainda precisemos lembrar o óbvio: quem ocupa cargos públicos deve governar para todos, não para alimentar o próprio ego. Enquanto Renan Calheiros e Arthur Lira se engalfinham num duelo para decidir quem é o maioral, Alagoas segue arcando com a conta, uma conta que já passa dos R$ 300 milhões e que não para de crescer. Eles brigam, eles se exibem, eles jogam pesado. E nós, como sempre, somos os que pagamos.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA


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