Jornalista, escritor, colunista do Jornal Extra, Tribuna do Sertão e presidente do Instituto Cidadão.

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Um mandato honrado — o retorno necessário de Heloísa Helena

11/12/2025 - 12:53
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Há acontecimentos na política brasileira que não seguem a lógica da esperteza, do compadrio ou dos arranjos subterrâneos. Seguem outra linha a da dignidade. A posse de Heloísa Helena, por seis meses, na vaga do deputado Glauber Braga é um desses raros momentos em que a política respira, ainda que por instantes, o ar puro da honradez.

Serão poucos meses, é verdade. Mas intensos. Suficientes para reacender a energia de uma das vozes mais coerentes e combativas do país. Heloísa Helena volta à Câmara carregando uma biografia política de qualidades que se tornaram exóticas no Brasil contemporâneo: coragem, integridade, decência e compromisso visceral com o interesse público. Sua trajetória, sempre marcada por defesa intransigente dos direitos sociais, pela ética na vida pública e pela altivez diante dos poderosos, faz dela um nome que não se dobra, não negocia princípios e não se rende às conveniências que movem a maioria.

É irônico e revelador que este mandato lhe seja concedido pelo Rio de Janeiro, enquanto Alagoas, sua terra, lhe fechou as portas. Alagoas, onde ela fez política pelos excluídos, enfrentou coronéis, derrotou máquinas e mostrou que é possível exercer poder sem sucumbir à promiscuidade que domina o sistema. Alagoas, muitas vezes prisioneira de velhas estruturas, negou-lhe o mandato que ela merecia. O Rio, com sua tradição de rebeldia e espírito crítico, agora a restitui ao palco nacional.

Heloísa Helena retorna a Brasília como uma lembrança incômoda para uns e uma esperança luminosa para muitos. Seu estilo direto, sua postura incansável e sua presciência diante dos desvios da República serão novamente testados. Mas é justamente aí que reside sua maior força: ela não precisa de manual, nem de roteiro, nem de gabinete cheio para brilhar. Ela brilha porque é, talvez, uma das poucas sobreviventes de uma geração de políticos que ainda acreditam que mandato é serviço, não negócio.

Esses seis meses serão, sem dúvida, uma vitrine. Uma vitrine para o Rio confirmar o que já sabe: que Heloísa Helena é maior do que a política pequena, que ela é necessária, que sua ausência empobrece o debate nacional. Nada mais provável do que o eleitor fluminense lhe devolver definitivamente um mandato nas próximas eleições. E nada mais justo.

Porque, em tempos de mediocridade ruidosa, retrocessos civilizatórios, agressões à democracia e negociatas que envergonham a República, o retorno de Heloísa Helena é mais que um gesto: é um respiro. É um sinal de que ainda existem trincheiras de dignidade.
E quando ela voltar, eleita, voltará não como coadjuvante de arranjos, mas como protagonista daquilo que sempre foi: uma parlamentar honrada, incômoda, vigilante e necessária.

O Brasil precisa urgentemente de políticos assim. O mandato dela, mesmo curto, lembrará a todos o que significa exercer a vida pública com decência. E isso, hoje, é quase revolucionário.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA


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