colunista

Isaac Sandes

.

Conteúdo Opinativo

A fluidez dos tempos e a pressa da vida

10/05/2019 - 11:40
A- A+
Divulgação
A fluidez dos tempos e a pressa da vida

A fluidez dos tempos, a pressa da vida, onde passamos a contar o tempo por eventos, como Copa do Mundo, Olimpíadas etc., a urgência de termos que encontrar uns aos outros imediatamente, onde quase nada pode esperar para o dia seguinte, tudo isso aliado ao um ilusório mundo das redes, onde todos são felizes, onde todos são bens sucedidos e belos, graças a recursos técnicos, tudo isso tem gerado no homem moderno níveis de ansiedade nunca vistos.

As principais vítimas de tudo isto são aqueles jovens que, protegidos por uma geração de pais que viveram tempos de frugalidade e escassez, e que por isso mesmo, fazem tudo para fornecer a estes filhos tudo aquilo que não tiveram.

Tais fatores têm provocado inestimáveis danos à formação da resiliência necessária aos desafios da vida. O ser humano desde sempre tem se deparado com dois grandes momentos de perplexidade que modificam sua vida para sempre. 

O primeiro existencial é aquele momento que corresponde, em termos bíblicos, à expulsão do paraíso ou, em termos práticos, o momento em que a criança toma consciência de sua finitude como ser, perde a inocência e passa a viver até seus últimos dias de sua vida com esse fantasma e inafastável medo. 

O segundo, de natureza material, é o momento que, como cidadão participante de um corpo social, depara-se com o dilema de que, em algum momento, terá que lutar por sua subsistência, uma vez que descobre que aqueles que tudo proveem em determinado momento desaparecerão.

Embora o primeiro momento seja impactante em sua personalidade, aos poucos vai sendo absorvido pelo ritmo que a vida impõe ao jovem, assim como a vitalidade de que é dotado o faz olvidar e colocar o evento morte num futuro que ele julga quase inalcançável.

Enquanto o segundo, que nos parece mais suportável, mostra-se como um desafio gerador de profunda ansiedade, a qual, se não for bem administrada ou trabalhada, poderá causar ao jovem danos e males que o perseguirão por toda vida como determinantes de sua personalidade.

Por estas razões últimas é que a nova ordem do mundo digital tem causado tantos danos aos jovens, que tomam o mundo das redes digitais como verdade última. Fato este que gera medos e frustrações, uma vez que julga-se incapaz de alcançar ou competir com aquele mundo que, não sabe ele, é falso e irreal.

Talvez resida em tudo isto a causa de tantos jovens necessitarem hoje em dia de acompanhamento psicológico e pior, quando tal acompanhamento ou ajuda falham, a causa de tantos atos extremados contra a própria vida.

Frente a isto, já é tempo de se pensar em uma política governamental de saúde mental voltada para os infantes e adolescentes, a qual forme um adulto mais resiliente e preparado para viver nesse mundo onde, no dizer de Zygmunt Baumman, os tempos são líquidos, o amor é líquido, os afetos são líquidos e a modernidade é líquida. Onde, talvez, o homem só encontre solidez na fuga para a morte

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA


Encontrou algum erro? Entre em contato