A Maldição das Galinhas
Fosse aquele homem um pagão, com certeza, teria dado um diferente rumo àquele dia que se iniciava.
De pronto, teria entendido os augúrios que se lhes revelavam naquela manhã fatídica. Teria compreendido tudo e se recolheria ao leito em rigoroso jejum penitencial.
Mas não; esquecido dos costumes e crendices do passado, saltou ele da cama com o nascer do sol e seguiu em seu desígnio matinal com as cinco futuras vítimas embaixo do braço. Resoluto, igonorava os apelos de sua mulher que, tal qual a de César, em vão tentou lhe falar e advertir para os pesarosos sonhos que tivera durante seu agitado sono
Finalmente, ignorou até o penoso cacarejar das pobres futuras imoladas galinhas.
Como um determinado sacedote druida, sem desconfiar do destino que o aguardava, marchou célere para o sacrificial altar, transmutado pela modernidade sob o sonoro nome de Abatedouro Santa Maria Madalena.
Mal iniciara-se o sacrifício, quando o carrasco já havia mergulhado as últimas pobres vítimas em um tacho de água fervente e já depenava as primeiras, eis que, de arma em punho, avança um meliante e anuncia o assalto.
Tomado de surpresa, nosso moderno sacerdote druida, aproveitou-se da proximidade entre ele e as desditosas vítimas e, a todo custo, procurou proteger seu patrimônio.
Sem pena, jogou sua carteira porta cédulas no tufo de penas da pobre galinha que jazia totalmente depilada ao seu lado. Restava-lhe ainda no bolso o valioso celular que não sabia onde enfiar. Desesperado, não teve cerimônia, enfiou-o na cloaca da galinha mais próxima que, ainda viva, soltou grande cacarejo que quase provoca uma tragédia, uma vez que o assaltante achou que aquilo era a reação de um cliente Ninja.
Por um triz, aquela combinação de sacrifícios, em todos os sentidos, não virou uma tragédia. Entretanto, como uma maldição, o resto do dia daquele homem tornou-se um verdadeiro inferno astral.
Desde então, daquele dia em diante, a qualquer sinal de sonho que envolva galinha preta ou até mesmo que tenham no seu conteúdo refeições com carne branca, o escaldado homem não sai da cama por maior que seja a necessidade ou apelo.
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA