Vacas Sagradas
As imagens ultimamente divulgadas de um grupo de estudantes agredindo sua professora e destruindo os móveis da sala de aula calaram fundo naqueles que há muito vêm observando e apontando os males da excessiva liberalização e afrouxamento das regras educacionais em nosso País.
Desde que o sistema educacional brasileiro adotou a decantada Pedagogia do Oprimido de Paulo Freire e o método construtivista, o aluno passou a ser o protagonista de primeira grandeza, enquanto o professor passou a ser o coadjuvante ou quase mero figurante na cena escolar.
Adicione-se a isto a posição de vaca sagrada a que foi elevado o aluno de hoje, com a idealização de que tudo que se fizer contra ele em termos de disciplina é opressão. Nessa marcha implantada por este sistema educacional enviesado, o clássico conceito de educação, que sempre foi entendido como um processo pelo qual o homem adquire o seu crescimento moral, intelectual e espiritual, desapareceu por completo.
Desde então, temos formado gerações que sequer adquirem o conhecimento trivial, no sentido da palavra Trivium, que lhe deu origem.
Apenas a título de esclarecimento, Trivium, na antiguidade, era a base de conhecimento sobre a qual seria erigido todo o edifício intelectual do estudante no futuro. Consistia nas três matérias básicas: Gramática, Retórica e Lógica, as quais possibilitavam, a partir daí, o aprendizado das restantes matérias que compunham o Quadrivium, as quais eram: Aritmética, Geometria, Música e Astronomia.
Não que, com isto, estamos querendo defender a implantação integral de um sistema educacional da antiguidade, mas tão somente defender que, antes de qualquer adição de conhecimento teórico, o aluno deve receber uma base moral, intelectual e espiritual, sobre a qual irá construir toda sua vida de aprendizado futuro.
Em nosso país, educação virou sinônimo de ativismo político e sindical e ensino tornou-se sinônimo de empreendimento comercial. Ou seja, os professores, em sua grande maioria, não educam, mas apenas militam, enquanto os proprietários de escola e responsáveis pelo sistema de ensino não estão voltados para a atividade fim, mas apenas para uma atividade empresarial, com todos os seus objetivos voltados para o lucro e a ganância.
Nessa marcha, o que estamos vendo em relação ao comportamento de alunos não é novidade e não será um fato isolado. Tal comportamento teve talvez sua estreia no episódio que levou o nome de “Episódio de Busenattentat” numa livre tradução “Assassinato do seio”, ao qual credita-se a morte prematura do sociólogo e pensador Theodor Adorno, no qual seus próprios alunos, que tinham sido levados por ele mesmo a um violento extremismo de esquerda, revoltaram-se contra seu velho mestre, invadiram a sala de aula o chamando de fascista; as mulheres do grupo tiraram suas blusas e esfregaram suas tetas na cara do velho guru que, envergonhado e chocado, saiu dali pra nunca mais retornar.
Na defesa de mudanças neste estado de coisa que hoje reprisam tais exageros e indisciplinas, devemos compreender e nos lembrar do que dizia Mortimer Adler a respeito do velho e do novo. O mundo antigo é a base que possibilitou a existência e sucesso do mundo moderno. Nossa crença nessa máxima nos faz gelar ao imaginar: o que será o mundo futuro para nossos filhos e netos, calcado nesse mundo atual que, num amanhã não muito longínquo, será o mundo antigo?
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA