colunista

Alari Romariz

Alari Romariz atuou por vários anos no Sindicato dos Servidores da Assembleia Legislativa de Alagoas e ganhou notoriedade ao denunciar esquemas de corrupção na folha de pagamento da casa em 1986

Conteúdo Opinativo

Assessora para assuntos resolvidos

17/07/2023 - 13:35

ACESSIBILIDADE


Ser sindicalista é um dom, um privilégio, uma luta longa e cansativa. Numa repartição como a Assembleia Legislativa é bem mais difícil porque todos trabalham no mesmo lugar e se encontram constantemente.
Quando resolvi me engajar no movimento sindical, comecei a fazer inimigos. Uns do nosso lado, insatisfeitos com o rumo dos acontecimentos. Outros, da facção contrária, querendo agradar os deputados. Sem contar os parlamentares que não aceitavam uma mulher impedindo certas medidas.

Uma vez fui chamada pelo presidente da Casa, num fim de tarde: “A senhora é solteira?” Não, respondi; sou casada, tenho filhos e netos; por que? Rindo, afirmou: “Pensei que fosse solteirona”. Piada sem graça.
Como vice-presidente do “Velho Sindicato”, assustei-me quando um diretor arrombou a sala da entidade, que era dentro do prédio da Assembleia, e jogou móveis e documentos no corredor. Alugamos duas salas num edifício na Rua do Sol e lá ficamos instalados.

Foram muito anos de disputa, mas nosso grupo foi crescendo. Compramos uma casa velha, reformamos e ali construímos nossa sede. Criamos, com nosso grupo, nossa cooperativa médica e, mais uma vez, edificamos a sede do nosso plano de saúde, a Copamedh.

É preciso salientar que tudo foi feito com o imposto sindical e a verba que vinha dos salários dos servidores. Por fim, compramos um terreno na estrada do lado Sul de Maceió, indo para Marechal Deodoro. Lá construímos nosso Clube Legislativo, lindo e soberbo, numa área nobre.

Durante muitos anos de luta na Justiça pelos direitos dos companheiros, ganhamos várias ações. Recentemente, alguns servidores da Assembleia Legislativa receberam altos valores resultantes de processos de nossa época.
Um grande prazer que tive como presidente do Velho Sindicato foi ser chamada à Santa Casa de Misericórdia para visitar um colega humilde, que lá estava em estado terminal, amparado pelo nosso plano de saúde. “Chamei a senhora aqui para dizer que estou morrendo com dignidade, graças ao trabalho do seu grupo”, disse. Chorei de orgulho.

Quando vou às festas no Clube Legislativo, fico emocionada vendo a alegria de colegas e familiares cantando e dançando. Olho para os céus e agradeço a Deus por ter me dado força e coragem para construir um local de lazer para os servidores da Assembleia.

Entretanto, sem mandato, passei por momentos tristes, sofri injustiças dos próprios companheiros. Aprendi com meu pai a não baixar a cabeça nos dias de sofrimento. Levantei a cabeça, descobri quais os verdadeiros amigos com os quais poderia contar e decidi: a partir de hoje, irei apenas assessorar os companheiros que dirigem a entidade. Não quero mais cargos, ficarei de longe, observando o Velho Sindicato e tentarei evitar que caia em mãos desastrosas.

E lá se vão mais de trinta anos! Perdemos a Copamedh, pois os gestores não a deixaram crescer. Sofremos atualmente com a filiação à Unimed, pagando valores altíssimos. Todavia, o Velho Sindicato está vivo, sob a direção de colegas competentes e conscienciosos. As ações judiciais estão em andamento. Há diversos convênios com a entidade e nossos dentistas nos atendem bem. Eu diria, sem medo de errar, nosso querido sindicato é respeitado por deputados e servidores.

Atualmente, acompanho as eleições internas, converso com os dirigentes mostrando-lhes o que vejo do lado de fora. Vou sempre visitar nossa sede, mantenho amizade com os funcionários que lá estão há muito tempo. A direção da entidade é composta por amigos de fé.

E digo, em alto e bom som: sou apenas Assessora para Assuntos Resolvidos!

Viva o Velho Sindicato.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA


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