colunista

Alari Romariz

Alari Romariz atuou por vários anos no Sindicato dos Servidores da Assembleia Legislativa de Alagoas e ganhou notoriedade ao denunciar esquemas de corrupção na folha de pagamento da casa em 1986

Conteúdo Opinativo

Quando eu morrer...

31/07/2023 - 13:11

ACESSIBILIDADE


Fui interpelada por uma filha para saber como queria ser lembrada. E eu, pensativa, respondi várias bobagens ou verdades.

Quero ser lembrada pelo bem que consegui espalhar por toda a vida. Pelo amor que sinto por meu marido desde 1956, chegando aos sessenta anos de casada, com tranquilidade, estabilidade financeira e emocional. Pelos amigos conseguidos, pelas batalhas disputadas, conquistando vitórias, amealhando derrotas, nesses meus oitenta e dois anos. Pela maneira como trato as pessoas que trabalham para mim durante muito tempo.

Insiste a filha: “Não se arrepende de nada?” Ainda pensativa, respondi: De quase nada! Ela continuou: “Tem certeza?” Respondi novamente: Claro que tenho e revivi: afastei-me de alguns parentes por problemas sérios. Não me arrependo de nada; faria tudo novamente. Já perdoei todos, mas prefiro ficar longe de quem me ofendeu.

De minhas lutas profissionais na Assembleia Legislativa de Alagoas, também não me arrependo. Consegui muitas vitórias, fui perseguida, tive meu salário cortado, fui processada injustamente, mas vejo com alegria que dias melhores virão para meus companheiros de Legislativo.

Outro dia, uma amiga do Facebook disse-me que gostaria de ser minha vizinha. Fiquei alegre porque aprendi com minha mãe a lei da boa vizinhança, isto é, viver bem com eles, mas não os incomodar com visitas insistentes. Assim sendo, sou boa amiga das pessoas residentes perto de mim.
Alguns me chamam de bélica. E sabem por que? Porque não consigo ouvir ofensas e ficar calada. Ouço sempre: “Não passe recibo!” Mas adoro dizer às pessoas que me ofendem o que sinto. Muitas vezes, conquisto inimigos, mas fico aliviada.

Outro grande trunfo de minha vida são meus filhos, netos e bisnetos. No entanto, quem está em primeiro lugar é meu marido. Estamos juntos há sessenta anos e chegamos ao fim da vida lúcidos, curtindo lembranças, administrando sonhos e fomentando esperanças. Até o fim estaremos juntos, se Deus quiser.
Hoje, já nos últimos anos de existência, olho para trás para analisar o caminho percorrido e verificar as mudanças por que passamos. Vimos jovens usando drogas, outros procurando estudar e vencer na vida.
Os netos já são médicos, engenheiros, advogados. Apareceram os bisnetos. E a velha senhora vai por caminhos desconhecidos, observando as loucuras praticadas pelos políticos que não lutam por um Brasil melhor, mas pela sua sobrevivência.

O país está cada dia mais dividido. Só agora a classe política decidiu que homens e mulheres devem ter salários idênticos, mesmo sabendo que, em concurso, as mulheres levam vantagem.

Daí o motivo pelo qual a velha senhora vive o presente, pensando no futuro. E quer ser lembrada como uma mulher que, desde menina, procurou o caminho do bem, cuidou de seus irmãos, respeitou os mais velhos, foi fiel a seus princípios e às pessoas amadas.

Uma grande tristeza foi sentida com as respostas da Justiça e da Mesa Diretora do Poder Legislativo. Homens e mulheres dos dois poderes vendo uma sindicalista desenvolvendo um trabalho limpo, sem ofensas pessoais, criticando apenas o lado profissional. Não merece ser castigada e sim digna de respeito!
Meus leitores podem ficar tranquilos: não deixarei de lutar por meus direitos. Não deixarei de defender minha família e meus companheiros. Não me assombro com pessoas importantes que humilham os mais fracos. Quem faz aqui, paga aqui mesmo!

Quero ser bem tratada por todos: amigos, parentes, conhecidos. Da mesma maneira, eu os trato bem.
Quando eu morrer, escrevam no meu túmulo: Aqui jaz uma mulher que sempre procurou ser fiel e respeitada. Deus a tenha em um bom lugar!

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA


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