colunista

Alari Romariz

Alari Romariz atuou por vários anos no Sindicato dos Servidores da Assembleia Legislativa de Alagoas e ganhou notoriedade ao denunciar esquemas de corrupção na folha de pagamento da casa em 1986

Conteúdo Opinativo

A vida tem seus encantos

05/05/2024 - 06:00

ACESSIBILIDADE


Vamos falar de coisas boas. Na infância, nada como morar no Farol, um bairro arborizado, com ruas sem calçamento, onde podíamos andar de bicicleta. A adolescência, ainda no Farol, foi maravilhosa. Durante as férias, meu pai fazia campos do vôlei, comprava jogos de botão, juntava as meninas e meninos da vizinhança para se divertirem, enquanto nossa mãe preparava os lanches. Era uma festa encantadora! Nessa fase ainda não namorava. Tinha muitas amigas e nos divertíamos indo ao cinema, à praia, à feira do bairro.

Aos 15 anos reencontrei um velho amigo do Grupo Escolar Fernandes Lima e começamos a namorar, de longe, durante seis anos. Só nos encontrávamos nos meses de férias. Casamos, moramos em vários estados e tivemos quatro filhos. Imaginem vocês a alegria de ter filhos! É uma sensação maravilhosa. Outro dia, em plena madrugada, o casal de 83 anos conversava sobre a sorte de começar uma vida a dois aos 21, chegando à velhice lúcido, comentar tal fato. Foram muitas lutas, alegrias, tristezas, podendo concluí-la com saldo positivo.

Dentre as coisas boas da vida, a melhor delas é comer a fruta tirada do pé. Em nossa casa, temos o prazer de colher pitanga, cajarana, jambo, pinha e limão. Pela manhã, aparece sempre uma bandeja com algumas destas frutas. Bom demais é fazer exercício em nossa piscina, olhando para o mar e agradecendo a Deus por ter concedido ao velho casal um certo conforto. Na verdade, trabalhamos mais de 60 anos para chegar a este ponto. Ir à missa todos os domingos é outra alegria bem grande. Meu marido é bem católico e eu sou acompanhante do companheiro, pois prometi, quando casei, que iria à Igreja com ele aos domingos. Tento ouvir as leituras, compreendê-las e interpretá-las para minha vida. Gosto das parábolas. A minha preferida é a do Filho Pródigo. Entendo pouco as mensagens, mas sempre que as ouço, entendo mais. São lições de vida.

Curtir as vitórias de filhos e netos, suas conquistas, suas alegrias é muito gostoso. De repente, liga um deles para contar: Vó, passei no vestibular! Ou então: Vó, vou ser médico em dezembro. Já estão nascendo os bisnetos! Alegria dobrada! Só que todos moram fora do Brasil. Curtimos pela internet os primeiros meses deles. Em dezembro passado dois vieram passar o Natal no Rio de Janeiro. Fomos lá conhecê-los. Alegria das maiores!

Para dois velhos de 83 anos é bem interessante saber que são amados, protegidos, fiscalizados. As filhas ligam diariamente para saber da pressão, da glicose, dos remédios, das consultas médicas. A família é um fator bem relevante. Somos de uma numerosa. No momento, é difícil juntar todos em algumas ocasiões. Mas o elo sanguíneo é muito forte e por mais que vivamos separados, não nos esquecemos uns dos outros.

Vez em quando, servimos de referência para outros casais. Estivemos num laboratório e uma senhora, mãe de duas jovens, me viu cuidar do companheiro, que tinha feito exames. Ela se aproximou e disse: “Gostaria de ficar velha assim, como vocês”. Que lindo! Ficamos orgulhosos. Ouvi de um padre amigo nosso que casal velho não se beija mais. Discordo dele. Na nossa idade, precisamos de amor, carinho e muitos beijos. Chegar ao fim da vida procurando viver com alegria, aproveitando os bons momentos, cuidando da saúde, curtindo filhos, netos e bisnetos, é bem saudável. A vida é curta, mas é boa!

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** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA


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