colunista

Alari Romariz

Alari Romariz atuou por vários anos no Sindicato dos Servidores da Assembleia Legislativa de Alagoas e ganhou notoriedade ao denunciar esquemas de corrupção na folha de pagamento da casa em 1986

Conteúdo Opinativo

Bons amigos

02/06/2024 - 06:00

ACESSIBILIDADE


Uma das coisas boas da vida é ter amigos. Conheci várias criaturas que se entenderam bem, conviveram bem durante muitos anos. Os casos são raros, mas existem.

Dois políticos famosos de Alagoas foram amigos-irmãos até a morte. Certa feita, encontrei Guilherme Palmeira numa festa. Divaldo Suruagy estava numa situação difícil, pois tinha se afastado do governo. Ele me disse: “Precisamos ajudar nosso amigo”. E ficamos conversando sobre as traições que o governador daquele momento vinha sofrendo. Aí, eu vi que ele era um verdadeiro amigo do Suruagy.

Durante a doença de meu filho João, contamos com dois amigos quase irmãos dele. Danilo, filho de um colega de meu marido, e Plauto, nosso sobrinho. Nada faltou ao meu filho graças a esses dois rapazes. Jamais poderemos agradecer aos dois jovens. Rezo sempre por eles.

Eu tive grandes amigas que se tornaram quase irmãs. Dentre elas, posso citar, sem medo de errar, que a melhor delas foi Ana Soriano. Conhecemo-nos desde os doze anos e fomos levando a vida sempre juntas. Fui ao enterro dela e chorei por ter perdido uma irmã do coração.

Meu pai tinha um grande amigo que foi deputado estadual. Ele, o parlamentar, foi vítima de uma traição de outra pessoa, que comprou uma caminhonete em seu nome e não pagou. Meu pai foi ao cartório e assinou um documento “comprando” os bens do amigo, evitando que o banco tomasse o que ele possuía. Algum tempo depois, sanada a exigência, ele chamou o João Romariz para devolver tudo. E assim foi feito!

Conheci dois irmãos e um deles ficou doente, precisando de um transplante. A irmã esteve comigo amedrontada. Disse-me que ia doar o rim, mas morreria. Conversamos bastante e tentei aliviar o sofrimento da moça. Pois bem, a doação foi feita e dois meses depois ela faleceu. Apesar do medo, foi amiga do irmão até o fim.

Em compensação, há traidores que prejudicam qualquer pessoa. Em política, vejo casos escabrosos. Voltando a Divaldo Suruagy: ele ajudou a milhares de pessoas. E foi traído por elas, a quem garantiu um emprego. Da última vez em que foi candidato, perdeu a eleição, devido aos falsos amigos.

Quando Rubião foi para a Escola Preparatória de Cadetes do Exército, em Fortaleza, recebeu dois coturnos de número 38. Ele calçava 42, não conseguia usar os que lhe deram, necessitando atender urgentemente a ordem de se apresentar uniformizado. Um cearense estava ao lado e nem o conhecia. Cedeu-lhe um coturno 42, recebido em duplicata. Ainda hoje são grandes amigos, apesar de já terem mais de oitenta anos.

Sempre alertei meus filhos para terem cuidado com os falsos amigos e nunca errei. Pelo procedimento dos moços, percebia que não eram sinceros.

Tenho uma amiga querida que foi promotora e hoje é advogada. Sempre que íamos às festas, ficava de olho nas pessoas que diziam gostar dela. Em dois momentos, como elas não sabiam quem eu era, falavam mal da promotora e eu ouvia calada. Claro que contava o que vi e ouvi. E ela acreditava em mim. Acho que aprendeu a selecionar suas amizades.

Nas Forças Armadas conquistamos vários amigos, que nos visitam até hoje. A competição acaba na reserva, mas as amizades perduram durante a vida toda.

Fui aluna do Grupo Escolar Fernandes Lima e, no primeiro dia de aula, uma colega me chamou para sentar com ela. No primeiro mal entendido, expulsou-me do lugar. Saí de lá e fui sentar no fundo da sala. A professora me fez voltar ao lugar da frente.

As amizades dentro da família são mais difíceis, principalmente se há muitos membros dentro dela. É preciso selecionar os escolhidos com o passar do tempo.

Amigo de festa é fácil, como dizem os mais velhos. Difícil é contar com certas pessoas na doença ou na adversidade. Foge a grande maioria. Na política, também, quando se está numa boa fase, chegam os “amigos”. Quando se perde as eleições, só ficam as dívidas.

Só com a maturidade selecionamos a boa pessoa da má. As lições vêm com o tempo e, com elas, decepções ou alegrias.

Pense e reflita: você já teve um bom amigo?

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA


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