colunista

Alari Romariz

Alari Romariz atuou por vários anos no Sindicato dos Servidores da Assembleia Legislativa de Alagoas e ganhou notoriedade ao denunciar esquemas de corrupção na folha de pagamento da casa em 1986

Conteúdo Opinativo

Lincoln Gordon em Alagoas

22/06/2024 - 06:00
Atualização: 21/06/2024 - 23:34

ACESSIBILIDADE


Os documentos históricos e os arquivos americanos provam que o embaixador dos Estados Unidos no Brasil Lincoln Gordon foi um dos principais articuladores do golpe militar de 1964. Uma face pouco conhecida dele: tinha ótimos contatos em Alagoas. Um deles era o professor Ib Gatto Falcão, que me confessou, em entrevista publicada no jornal Primeira Edição, ter tido a satisfação de passear de limusine pelas ruas de Nova York acompanhado de Gordon.

Gordon viria a Alagoas dias antes do 31 de março de 1964, quando houve o golpe. Mudou de ideia após conversa com Vernon Walters, diplomata, também articulador do golpe e mais tarde vice-diretor da CIA, registro de Phyllis R. Parker no livro 1964: O Papel dos Estados Unidos no Golpe de Estado de 31 de março.

Lógico que Gordon sabia o que estava por vir. Os americanos acreditavam que o presidente João Goulart queria implantar o comunismo no Brasil. Walters, segundo registra Phyllis, criou que havia certa pressa: antes que Goulart desse o seu golpe ou promovesse oficiais leais e em detrimento daqueles com lealdades mais tradicionais, era necessário sair na frente do presidente brasileiro.

Além disso, os americanos sabiam que os brasileiros não planejariam golpes em feriados como Páscoa, Domingo de Ramos, Sexta-Feira Santa ou num 1º de abril.

O ambiente estava preparado. O governador era Luiz Cavalcanti, major e mais adiante general, dizia que era a favor da cassação “imediata e sumária” dos mandatos dos deputados “esquerdistas e comunistas”, em entrevista ao Jornal do Brasil publicada em 7/4/64, uma semana após o golpe.

Dos 28 grupos empresariais alagoanos, maioria formada pelos usineiros, 22 estavam preparados para enfrentar uma guerra revolucionária. Todos preparados pelo coronel João Mendonça, que era secretário de Segurança. Aptos a sabotagem e luta de guerrilhas, conforme registro no livro Presença dos Estados Unidos no Brasil, de Moniz Bandeira.

Era uma força paraestatal. São grupos que tinham 150 capangas, 15 mil litros de combustível e, para cada metralhadora, mil tiros. Fazendeiros, comerciantes e 1.800 produtores de açúcar e proprietários também contribuíam. Cada um levava, pelo menos, cinco homens armados. A CIA oferecia suporte financeiro. Pelo Nordeste, semeou 100 milhões de cruzeiros. Armas eram contrabandeadas.

Luiz Cavalcante monitorava a situação de Pernambuco e Sergipe, cujos governadores se identificavam com o plano de reformas de João Goulart. Um avião fazia sobrevoos diários, reconhecendo as fronteiras, mantendo contato com guerrilheiros latifundiários menos organizados. O golpe foi instalado sem um único tiro, mas sempre se alimentava – como hoje – da ameaça do fantasma comunista.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA


Encontrou algum erro? Entre em contato