colunista

Alari Romariz

Alari Romariz atuou por vários anos no Sindicato dos Servidores da Assembleia Legislativa de Alagoas e ganhou notoriedade ao denunciar esquemas de corrupção na folha de pagamento da casa em 1986

Conteúdo Opinativo

Para onde vamos?

03/11/2024 - 06:00

ACESSIBILIDADE


A única certeza que temos na vida é que, um dia, morreremos. No entanto não somos preparados para a morte. O primeiro susto que tive na vida foi perder minha avó paterna. Eu tinha 14 anos e, ao vê-la no caixão, perguntei a meu pai para onde ela iria. Ele, triste e sério, disse-me que não sabia. De concreto, iríamos levá-la para o cemitério. Depois, só Deus saberia responder à minha pergunta.

Durante toda minha vida fui perdendo amigos e parentes. Ia ao velório, rezava por eles e sempre me questionava: para onde iriam eles? A maior dor da minha vida foi perder meu filho João. Olho para o céu e, chorando, tento saber onde ele está. Era um moço alegre, brincalhão, cheio de vida e, em menos de um ano, Deus o levou. Sonho com ele, com suas risadas, suas brincadeiras, sempre me dizendo: “Mãe, estou aqui; não me esqueça!”

Tenho uma grande amiga, que ficou viúva e vive esperando que o marido venha buscá-la. Não sai de casa; só vai à missa e insiste: “Ele prometeu que voltaria”. Minha mãe morreu muito jovem e, dois anos antes de partir, perdeu meu pai. Antes do último suspiro chamou por ele. Perdeu a razão de viver! Era uma mulher bonita, mas não se arrumava mais. Não saía de casa, nada festejava. Só pensava em ir encontrar o seu João! E o pior: tinha certeza disso!

Nunca fui preparada para a morte! Vou sempre à missa e procuro uma explicação. Não encontro! Não sei para onde vamos! Minha sogra era uma mulher religiosa. Ao envelhecer, foi para a UTI várias vezes e ficou detestando tal situação. Dizia-me sempre: “Sou muito católica e peço a Deus todos os dias para não ir mais para o hospital, para morrer dormindo”. E assim aconteceu. Ela não acordou. Deus a levou no meio do sono.

Não entendo o suicídio! Como a criatura tira a própria vida! Será desespero ou descontrole emocional? Há casos de pessoas viciadas em drogas que se matam. Houve um caso de uma cantora que se matou no auge das drogas. Eu pergunto aos mais esclarecidos na vida: quem se suicida para onde vai? Vemos na mídia a história de crimes violentos, principalmente homens matando mulheres. Muitas vezes mocinhas de vinte anos que se envolvem com pessoas violentas. Os pais orientam, mas elas não obedecem e o resultado é negativo.

Para onde vão as criaturas que cometem crimes, enganam a família, desrespeitam os pais? A quem prestarão contas? Vejo filmes espíritas onde são contados casos de pessoas que erraram muito na terra e do outro lado do mundo passam por lugares horríveis até pagarem por tudo que fizeram por aqui. Não sei se devo acreditar em tais narrações.

Sendo eu uma mulher que viveu muito, penso sempre na minha morte e na do meu marido. Passei dos oitenta, o corpo todo vai envelhecendo e é natural que imagine a proximidade do fim. Não posso reclamar do tempo que vivi na terra, mas tenho medo da possível morte. Uma dúvida atroz me persegue. Não sei para onde irei. Deixarei meus entes queridos e irei para o desconhecido.

Talvez se fosse mais religiosa, se me aprofundasse mais no que ouço nas missas, encontraria uma resposta. Entretanto, quanto mais o tempo passa, fico mais assustada. Rezo e peço a Deus ajuda no fim da minha caminhada. Vou fazer como minha sogra: pedir a Ele que me leve dormindo. Seria muito ruim ir para um hospital, sofrer na UTI e ficar esperando para desencarnar. Tudo isso são devaneios de uma velha senhora que crê em Deus, mas não consegue acreditar no fim da vida, que é tão boa.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA


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