Perdi outra grande amiga
Sou mulher de muitos amigos, alguns verdadeiros. Zilneide Lages era amiga, quase filha. Eu a conheci quando tinha vinte e poucos anos e eu na casa dos cinquenta. Senti que ali estava uma jovem com vontade de vencer. Fomos caminhando juntas.
Exerceu vários cargos no “Velho Sindicato”, até que chegou o dia de sua candidatura à presidência da entidade. Na primeira eleição ganhou com uma pequena diferença de dois votos. Na segunda, superou o adversário com mais de cem votos. Isto quis dizer que fez excelente administração.
A Assembleia Legislativa de Alagoas é uma entidade política, onde os dirigentes se acham donos da verdade e tratam os servidores como se fossem dependentes deles. A convivência é difícil e cheia de perseguições. Mas a Zilneide soube conviver com várias Mesas Diretoras de maneira corajosa. Conversávamos muito e ela me dizia: “Calma, amiga, nós vamos conseguir”.
Outro fato típico é lidar bem com os companheiros. Eles não entendem que o sindicato é intermediário, não tem poder de decisão. Nem sempre os colegas aceitavam a posição da Zil.
Além disso, na diretoria do “Velho Sindicato” a maioria é composta de homens e a mulher para ser presidente precisa ser forte e destemida. E ela provou que era!
Para falar da Zilneide como pessoa, diria que era corajosa. Aos quarenta anos, solteira, decidiu que queria ser mãe. Teve Ayra, uma linda menina, hoje uma bela moça. Imagino o sofrimento da querida Ayra ficando órfã aos dezoito anos.
Outra qualidade da Zil foi ser boa filha. Posso até afirmar que era a chefe da família, protegendo a mãe, os irmãos, os sobrinhos. Vai fazer muita falta a eles.
Os funcionários do “Velho Sindicato” choravam no velório de sua inesquecível presidente. Todos, sem exceção, lamentavam a ida precoce de sua querida mãe, que era a nossa Zil.
Como nem tudo são flores, vez em quando discordávamos. Sentávamos, conversávamos, apresentávamos nossas justificativas e voltávamos a ser boas amigas. Ninguém se metia entre nós; nem os familiares.
No decorrer de tantas lutas, certo dia apareceu a terrível doença. Entendi logo que era fatal! Mas ela achava que a venceria. Não esmoreceu. Lutou como uma leoa e a cada notícia ruim, afirmava: “Amiga, vencerei. Você vai ver!”
Foram três anos de quimioterapia, idas e vindas com resultados de exames e novas tentativas de tratamento. Nunca perdeu a esperança, nem falava em morte. Sempre dizia: “Não estou com câncer; ele vai sair do meu corpo”.
Fui sua madrinha de crisma, há um ano, na Igreja de Santo Amaro, em Paripueira. Pedia insistentemente ao bom santo que intercedesse pela cura de minha amiga. Não foi possível! Deus a levou! Espero que a tenha em um bom lugar.
Nunca falamos sobre possível ida para o céu. Ela me poupava muito. Nunca me dava más notícias. Tinha planos de ser candidata à presidência de nosso sindicato novamente e à presidência da Fenale, nossa federação. Sabia do meu apoio. Mas não houve tempo! Sua vida na terra chegara ao fim. Tudo nos planos de Deus!
Seu relacionamento com os colegas da Assembleia era muito bom. Ajudou a muita gente, lutou pelo retorno do pagamento das férias, melhorou a situação de alguns para que pudessem se aposentar dignamente. Nem sempre teve o reconhecimento esperado. Alguns receberam benesses e viraram inimigos.
Cansei de ver na sede do sindicato pessoas esperando por ela para pedir empréstimos, negociar dívidas, obter vales de gasolina. Dias depois, encontrava-me com elas reclamando da benfeitora.
Ficou na diretoria do sindicato lutando contra a doença, mas trabalhando. Poucos dias antes de morrer, tirou licença de trinta dias, pois não conseguia assinar os cheques.
E lá se foi neste janeiro de 2025, nossa amiga, colega, mãe, filha, irmã, tia, mas sempre apaixonada pela luta sindical! Deus a tenha em bom lugar e castigue os traidores. Ele existe. Não duvidem!
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA