Mães e pais com açúcar
Fui avó aos 46 anos. Passei a sentir algo diferente em mim. Nascia uma menina loirinha, filha de meu filho bem jovem. Um amor sem a responsabilidade de educar, mas precisando acompanhar os pais daquela criança.
Aprendi a observar de longe o desenvolvimento da menina. Três anos depois, surgiu outro neto. E o amor da avó foi amadurecendo, apesar de viver em outra cidade.
Com o passar dos tempos, nasceram outros e hoje são onze netos e cinco bisnetos. A família cresceu bastante e as oportunidades de celebrar momentos especiais das crianças foram aparecendo. Desde formatura no ABC até o casamento, eu e meu marido procuramos festejar com os pais.
Atualmente, alguns moram fora do Brasil, já têm filhos e sempre que suas férias são programadas, ligam para os dois velhinhos: “Vamos chegar, queremos vê-los”. Corremos para o Rio ou Recife e vamos comemorar algo.
Durante a noite, os velhinhos no Paraíso da Vovó Alari – nome lavrado em azulejo português na entrada da nossa casa – começam a pensar: Por onde andam os jovens pais? Será que estão trabalhando? Estão vivendo bem?
Outros mais jovens estão estudando, terminando o curso e vão ingressar no mercado de trabalho. A administração da vida dos jovens cabe aos pais. Os avós acompanham de longe o sucesso ou o fracasso dos netos. Aconselham os pais, mas nem sempre são ouvidos, talvez porque estejam fora de moda. Entretanto ficam alegres com os resultados obtidos pelos filhos dos filhos.
Quando nasceu a primeira bisneta foi muito bonito. Veio uma menina, bonita e sabida. Convivemos com ela durante certo tempo e ficamos felizes por vê-la tão inteligente. Depois dela, chegaram mais quatro bisnetos e os velhinhos, já com 80+, vibram com as boas notícias recebidas de todos eles.
A família se multiplicou, os dois idosos moram sós ou com uma filha e um neto. Aposentados, procuram ter algumas atividades e vivem esperando notícias de filhos, netos e bisnetos.
Os problemas são poucos, pois todos caminham nas regras do bem, respeitando as leis dos homens e as leis de Deus.
De vez em quando, liga um filho ou uma filha, dando notícias boas. Fulano está se formando, Sicrano terminou o doutorado, Beltrano saiu do Oriente Médio e vem morar no Brasil. Quando os avós podem ir a alguma solenidade, ficam felizes. Nem sempre isto acontece. Torcem à distância e aguardam as boas notícias.
É a fase da vida em que as pernas encurtam, o corpo enfraquece e nem sempre os avós podem participar de festas dos netos. Ficam no Paraíso sonhando com elas.
O caminho mais curto para os dois velhinhos é o consultório de médicos, o laboratório de análises. Não há mais forças, percorrer pequenas distâncias, aeroportos cansativos. É preciso ficar mais em casa, curtindo as boas notícias ou lamentando as tristezas.
Receber visitas está ficando mais difícil. As festas realizadas na casa de praia são poucas. Nem todos os familiares curtem a velhice dos pais, tios, ou têm paciência com suas manias. Alguns vêm rapidamente e vão embora.
Para os avós resta a sabedoria de viver bem e com seus recursos, aproveitar a lucidez, procurar ver os netos e bisnetos na medida do possível.
Administrar a velhice não é fácil! Curtir de longe netos e bisnetos é muito bom. Pedir sorte a Deus. Viver bem é o “X” da questão.
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA