Um mundo diferente
Tenho visto várias amigas da minha idade ou mais jovens acometidas de uma doença chamada demência. Segundo especialistas há vários tipos da tal moléstia.O que vejo são pessoas “saindo do ar”, repetindo histórias e perguntas. E o pior: desconhecendo parentes e amigos. A velhice já é uma fase difícil da vida. Aos poucos a criatura perde a memória, não pode cuidar de si própria e depende dos outros para tudo.
Se tiver sorte de ter filhos e marido morando com ela e lhe tratem bem, ainda é um consolo. Se, ao contrário, for arrodeada de pessoas impacientes, que não entendam o problema, vai sofrer muito.
É impressionante como as pessoas vão “saindo do ar” e não se lembram do que aconteceu antes. Muitas vezes, uma grande festa, onde foram homenageadas, sai da memória rapidamente. Ou então as perguntas são repetidas e irritam àqueles que estão próximos.
Um tipo de mau trato ocorre quando os familiares tomam a sua aposentadoria e deixam o idoso ou a idosa num estado de penúria. Não compram seus alimentos, seus remédios e usam tal quantia para comprar celular e outras bugingangas ou para frequentar restaurantes caros. Os pobres coitados que trabalharam durante anos não têm direito a uma velhice digna. E ainda aos gritos, são xingados.
Fico satisfeita quando vejo um filho ou uma filha cuidando bem da mãe demente. Outro dia uma filha me disse: “Ela é minha rainha; cuidarei dela até o fim de sua vida”. Por outro lado, soube de um caso triste: uma mãe estava insone e a filha vendo filme de terror; ouvindo a idosa reclamar, a malvada disse: “Fique quieta, não vou desligar a TV”. E assistiu ao filme até o fim.
O que gera impaciência, também, é ouvir histórias do passado. Os idosos contam tudo como se fossem fatos atuais. Surgem reclamações, gargalhadas e os próprios filhos não percebem as irritações deles.
E os idosos vão envelhecendo mais! Chega ao ponto de não poderem fazer sua higiene. Aí, a filha ou o filho começa a pensar em colocá-los num asilo. “É melhor para ela”, dizia uma vaidosa filha, acrescentando: “Não tenho tempo para cuidar de quem cuidou de mim”. Quando é um bom lugar, com boas condições, ainda vale a pena.
Pelo Brasil todo, vemos asilos sendo fechados por falta de higiene e maus tratos. Não quero estar na cabeça de tais filhos.
Vi, na TV, um caso de dois filhos, um engenheiro e outro médico, que tiraram o pai viúvo de sua casa. O velho implorou, afirmando que tinha dinheiro para pagar pessoas que cuidassem dele em sua própria casa. Não adiantou! Os dois malvados desfizeram a casa e colocaram o velho num lar de idosos. E foram viver suas vidas!
Ainda esta semana ouvi de uma filha: “Minha mãe é cadeirante. Eu moro em outra cidade e meus irmãos não têm tempo para ela”. Eu, no lugar da mãe, não queria receber visitas de tais filhos!
Não deixo de acompanhar casos amorosos, de filhos e filhas que olham por seus pais até o fim da vida, cuidando deles com amor e carinho.
Gostaria de lembrar a quem tem pais idosos, doentes ou não: se vocês não morrerem antes, ficarão velhos e vão precisar de pessoas bondosas, que cuidem de vocês.
Eu e meu marido estamos com 84 anos e sem demência. Espero que nossos filhos não nos joguem num asilo. Deixem-nos na nossa casa e não num mundo diferente.
Viva a vida!
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA