Impunidade pública
No serviço público tanto em Alagoas como no resto do Brasil o servidor, mesmo aposentado, não descansa. Precisa verificar se seu salário está sendo calculado corretamente, se seus direitos estão sendo respeitados.
Quando questionei algo sobre meu salário ao moço do Departamento de Pessoal da Assembleia Legislativa há dois meses, ouvi a piada: “A senhora não tem mais para onde ir”. E caiu na gargalhada.
Como a velhinha é sabida, comecei a pesquisar e descobri o desrespeito pelas leis vigentes. Aconteceu o congelamento do salário, pois o moço risonho só aplicava o redutor. Não observava o teto constitucional. Além disso, não havia a fiscalização na folha de pagamento. Do jeito que o tal moço risonho calculava, ia tudo para o cheque salário da servidora.
Comecei, então, a ladainha longa e irritante. Procurar falar com o diretor de Pessoal, que só aparece quando quer. Mostrar onde está o erro, procurar corrigi-lo e verificar o quanto perdeu em dois anos. Ainda foi interessante contar com a assessora do diretor, que foi de grande valia.
Estou contando esta pequena história para que os leitores avaliem como sofrem as pobres criaturas aposentadas do INSS. Cada mês, viam sair de seus contracheques uma determinada quantia e não entendiam a razão. Não conseguiam falar com ninguém. Só através do aplicativo. E ouviam a resposta “Empréstimo consignado”. E a ligação se encerrava.
Como a criatura não pediu nada emprestado a ninguém, tem que descontar tal quantia no salário por vários meses. De repente, estoura o escândalo do INSS, com várias pessoas envolvidas, inclusive, o irmão do presidente da República. Foram bilhões de reais indo para as mãos de pessoas desonestas.
A próxima novela é lutar pela devolução dos valores retirados indevidamente. Entrar no aplicativo, provar que não pediu o tal empréstimo e esperar, esperar, esperar...
Até hoje ninguém foi punido e os sindicatos tiveram seus descontos suspensos, mesmo os que não estavam envolvidos na sujeira do INSS. Não sei se alguém recebeu o dinheiro que saiu dos seus proventos. Alguns, que vivem na roça, nem se deram conta do que aconteceu. Continuam sendo roubados!
E ainda apareceram outros escândalos, também em Alagoas, envolvendo o INSS. Os sabidos encontraram novas maneiras de prejudicar os inativos. Dessa vez foram presas três pessoas.
É assim que funciona o serviço público: através de erros cometidos por servidores ou por engrenagens sujas. E o pobre coitado do servidor é prejudicado. Os maiores responsáveis pelo serviço público só se dão conta das falcatruas depois que o escândalo estoura. Colocam pessoas de sua confiança nos cargos chave e não fiscalizam o trabalho de seus amigos.
No Departamento de Pessoal da Assembleia Legislativa de Alagoas não é diferente. O diretor veio da Caixa Econômica, aparece quando quer e não fiscaliza a folha de pagamento. Segundo dizem alguns servidores, é pessoa de confiança do presidente da Casa. Atualmente, ameaça os servidores prejudicados, afirmando que o procurador da Assembleia vai rever sua vida funcional. E ri, ironicamente.
O erro já foi corrigido, mas a devolução do que foi retirado da servidora é uma grande novela. Fazer um processo, dar entrada no protocolo e aguardar; é a rotina a percorrer. Pouco se fala com o chefe de Pessoal e a palavra chave é: aguarde.
O moço risonho sumiu, depois que descobriu a lei que amparava a servidora. Nem pensa em ajudar e contar a verdade. É um funcionário comissionado, sem estabilidade. O que faltou foi a fiscalização na folha de pagamento pelo chefe de Pessoal.
Tanto faz o INSS ou a Assembleia Legislativa! O servidor pouco vale! Os administradores não entendem que as pessoas são dependentes de seu salário para viver.
Deus na causa!
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA