Passando a limpo
No dia cinco de março de mil novecentos e quarenta e um nasceu no bairro de Jaraguá, Maceió, uma loirinha, feinha e arengueira. Filha de um casal de classe média, cujos membros se uniram por amor. Era um lar feliz, e depois vieram mais sete filhos!
Foi crescendo a menina, estudando num grupo escolar e no Instituto de Educação, na época colégio de referência no estado.
Com 18 anos prestou concurso para a Assembleia Legislativa de Alagoas; exercia o cargo de bibliotecária, como interina. Aprovada, não foi nomeada para o cargo do concurso, mas foi efetivada como auxiliar de bibliotecária. Aí começaram as perseguições.
Anos depois, já formada em Economia, como o irmão era deputado estadual foi nomeada auditora financeira do Legislativo, ao vagar o cargo. Em seguida, foi rebaixada para assessora financeira, através de uma resolução política. Era presidente da Mesa Diretora um parlamentar que rebaixou a loirinha, mas colocou muitos membros de sua família no quadro de pessoal da Casa, sem que prestassem concurso público.
Sendo perseguida, a jovem loirinha começou a entrar na Justiça para recuperar seus direitos. Ganhou várias ações, só não conseguiu voltar a ser auditora. Entretanto teve seus direitos reimplantados judicialmente.
Com o passar dos tempos, casou com o único amor de sua vida. Teve quatro filhos, que se tornaram independentes e cuidaram de seus destinos, apesar de num péssimo momento ter perdido um filho lindo, com pouco mais de cinquenta anos.
Numa nova fase de perseguição, viu os dirigentes da Casa de Tavares Bastos equipararem seu salário ao de diretor do Legislativo. Recorreu à Justiça e mais uma vez ganhou a causa, passando seu salário a ser equiparado aos vencimentos de deputado estadual. Outra lei entra em vigor e equipara os salários dos servidores da ALE/AL ao de desembargador, isto é não podia ultrapassar o que percebe mensalmente tal magistrado.
Outros problemas apareceram, sempre resolvidos pela Justiça. Ela, a Justiça, é lenta, mas resolve a maioria dos casos.
A nova loirinha tornou-se a “Velhinha das Alagoas”. É articulista de um jornal do estado, lançou um livro com seus artigos contendo sua visão da política alagoana e em especial os meandros do Poder Legislativo. Aposentou-se, tem guardado em casa o seu título de aposentadoria, que passou pelo crivo do Tribunal de Contas e foi publicado no Diário Oficial, sem mistérios.
De repente, já com oitenta e quatro anos a idosa descobre que seu salário está sendo cortado. No Departamento de Pessoal foi ridicularizada por um servidor comissionado: “A senhora não tem mais para onde ir”. Sabidamente fui ao chefe de Pessoal que, no mês seguinte, corrigiu o erro. Entretanto mandou um recado: “Faça um processo para o Departamento de Pessoal solicitando a devolução dos recursos que saíram do seu salário durante dois anos e cinco meses e resolveremos o caso”. Assim, foi feito, mas nada foi resolvido.
Como a “Velhinha das Alagoas” nada tem a esconder, está, de público, contando sua história.
O lado particular da idosa é muito bom. Tem uma boa e numerosa família: três filhos, onze netos, cinco bisnetos, mais genros, noras e os casados com netos e netas. Somam 31 pessoas. Possui uma boa residência e pode comprar seus remédios.
O lado profissional é muito ruim. Vive reclamando na Justiça de suas perseguições. Só que agora não tem mais tempo para reclamar judicialmente. Confiou no chefe de Pessoal que menosprezou a velha senhora.
O problema está na Justiça de Deus!
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA