colunista

Elias Fragoso

Economista, foi prof. da UFAL, Católica/BSB, Cesmac, Araguaia/GYN e Secret. de Finanças, Planej. Urbano/MCZ e Planej. do M. da. Agricultura/DF e, organizador do livro Rasgando a Cortina de Silêncios.

Conteúdo Opinativo

A banda podre ou mudanças reais?

01/09/2024 - 06:00

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Na semana passada, o historiador Leandro Karnal, em sua coluna do jornal O Estado de São Paulo, lançou um repto em tom de provocação: “Em que momento a política passou a concentrar tanta gente ruim”. E foi mais longe: “Para onde foram os bons”?

Pois bem, existe uma frase atribuída a Ulysses Guimarães, este sim, um político com P maiúsculo, uma pessoa que empenhou a sua vida pela reconstrução democrática deste país recém saído de uma ditadura de 25 anos, que pode explicar a primeira parte do questionamento do historiador.

Mas antes, é preciso contextualizar. É preciso alertar aos leitores mais novos que, quando Ulysses fez aquele chiste, a política brasileira contava com expoentes como Teotonio Vilela, Mário Covas, Antônio Carlos Magalhães, Roberto Campos, Delfim Netto, Miguel Arraes, Leonel Brizola, Pedro Simon, Nelson Jobim, Marco Maciel, Fernando Henrique Cardoso, José Serra, Roberto Freire, e tantos outros grandes nomes.

Respondendo ao questionamento de Karnal, quando instado a opinar sobre a qualidade dos políticos eleitos, Ulysses Guimarães saiu-se com essa: “Tá achando ruim (essa composição do Congresso)? Então espera a próxima”. Sua crítica era à escassez de projetos de Nação a serem debatidos na Câmara e no Senado. Isso, num período em que o Congresso Nacional ainda era controlado por uma elite política de alta estirpe. E a banda podre estava aonde devia estar, nos desvãos daquela casa de leis. Passados 40 anos, a súcia tomou conta do Congresso, que hoje é controlado pelo que há de pior na política nacional. Infestado por “representantes” do jogo, do crime organizado, das drogas e até da bandidagem de rua do PCC e de outros “esquadrões”. E não é só o Congresso.

Sobre o solo fértil do fisiologismo mais rastaquera, brotou a fina flor do atraso, da ignorância, da bandidagem. Os oportunistas e vivaldinos de sempre. Emparedado por essa gente miúda e bandida, atolada em denúncias cabeludas, em falcatruas mil com o dinheiro público, a casa do povo não só perdeu a toada das discussões dos grandes temas nacionais, como vê brilhar a falta de compostura, para não irmos mais longe na vergonha que se tornou Câmara e Senado Federal.

Controlados pelos lobbies (na pior acepção do que esta palavra representa) e bandos escondidos por detrás de uma massa de políticos amorfos, despreparados e voltados unicamente para atender aos seus patrões e às suas desídias. Não à toa, a avaliação negativa do Congresso nacional é superior a 70%!

Os poucos parlamentares restantes dotados de capacidade intelectual e moral foram escanteados, estão emparedados, ameaçados pela bandidagem que tomou conta da política nacional. Desde a redemocratização do Brasil, em 1985, legislatura após legislatura, a qualidade dos políticos eleitos ao Congresso desanda para o pior. Cada vez mais. Não existe mais o voto de opinião, segmentos isolados não elegem candidatos e as redes sociais passaram a ter (para o bem e para o mal) peso inimaginável no processo eleitoral. É necessário alterar essa infeliz realidade.

Ao eleger vereadores e prefeitos, o eleitor precisa ter presente que grande parte deles mais à frente estarão nas assembleias e no Congresso Nacional; portanto, mudanças qualitativas começam agora. Estão nas mãos do eleitor.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA


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