Fogo de monturo não apaga fácil
A expressão “fogo de monturo” descreve um fogo que persiste, mesmo invisível, mas que, de repente, pode surpreender pela sua intensidade. Essa metáfora encaixa-se perfeitamente no Caso Braskem em Maceió. A empresa destruiu parte significativa da cidade (20% dos bairros), afetando diretamente 140 mil pessoas e ao Governo de Alagoas, e até hoje mente de forma dissimulada para se eximir, caloteiramente, de pagar o que deve.
Prefere gastar milhões em propagandas enganosas, tentando vender a mentira como verdade, acreditando que assim “controla” a sociedade, como fez com certas autoridades. Ledo engano. O fogo de monturo da resistência cívica dos maceioenses, alimentado pela dor de quem teve seus direitos pisoteados continua, e pela disposição, continuará aceso.
A semana foi pródiga em confirmar o modus operandi Braskem em Maceió. No escurinho da burocracia veio a público o Parecer Técnico Nº 3/2025/GT-SAL/SFI-ANM/DIRC da Agência Nacional de Mineração (ANM), que confirma: as deformações na área da mina 18 permanecem. Mesmo assim, a Braskem solicitou e a ANM concedeu, a alteração do método de fechamento da Frente de Lavra da mina 18, trocando o preenchimento com material sólido (e caro) pelo preenchimento natural.
Ou seja, grátis. A mãe natureza que faça o que ela não fez: fechar as cavidades das minas em movimento. É mais certo que outras minas dolinem como a 18, ameaçando a segurança dos maceioenses. E ninguém se mexe para brecar o novo estupro. As autoridades têm a responsabilidade de impedir mais essa aberração em detrimento de Maceió e de sua população. Esse “relatório” da ANM precisa ser confrontado.
Outro movimento no mínimo estranho pela rapidez (pró Braskem) ocorreu essa semana: a decisão à jato do Cade – Conselho Administrativo de Defesa Econômica, conhecido pela sua lentidão, que em poucos dias (Despacho SG Nº 980/2025) liberou sem restrições o pedido da Petroquímica Verde Fundo de Investimento em Participações (Nelson Tanure) e Multiestratégia e NSP Investimentos S.A. (Novonor) relativas ao ato de Concentração nº 08700.006808/2025-81.
Em miúdos: elas agora podem transacionar o controle acionário da Braskem (há detalhes a resolver). Mas ninguém fala de pagar os credores alagoanos.
Ainda nessa semana aconteceu a “inspeção judicial” no Bom Parto. Lá pessoas vivem sob alto risco. A “pérola” do evento foi a declaração do chefe da Defesa Civil de Maceió que afirmou não haver necessidade da retirada das famílias, pois os danos seriam causados por “argila expansiva no subsolo”. Afirmativa de pronto desmentida pelo engenheiro Abel Galindo, profundo conhecedor do subsolo da região. Mais uma tentativa de prejudicar as vítimas em benefício da multinacional.
Já a Defensoria Pública Estadual realizou movimento importante: formalizou pedido de compensação para os moradores do entorno do desastre (50 mil pessoas que jamais foram procuradas pela empresa para negociar o que lhes deve). Ponto para o Dr. Ricardo Melro.
Foi uma semana e tanto! Serviu para demonstrar e reafirmar que o “fogo de monturo” está longe de apagar. A todas as ações da Braskem a sociedade respondeu de forma imediata. A recente declaração do senador Renan Calheiros, ao reiterar de forma incisiva por urgente solução para o pagamento da dívida da empresa em Alagoas, é prova cabal disso. Serve de alerta aos futuros investidores. É preciso negociar. É não é com Braskem quase vendida.
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA