colunista

Elias Fragoso

Economista, foi prof. da UFAL, Católica/BSB, Cesmac, Araguaia/GYN e Secret. de Finanças, Planej. Urbano/MCZ e Planej. do M. da. Agricultura/DF e, organizador do livro Rasgando a Cortina de Silêncios.

Conteúdo Opinativo

A verdade precisa vir à tona

09/08/2025 - 06:00
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A exoneração do defensor público Ricardo Melro da chefia do Núcleo responsável pelo caso Braskem é, no mínimo, desconcertante. A decisão, tomada sem diálogo público e em meio a um processo ainda em curso, provocou indignação entre as vítimas e gerou perplexidade na sociedade alagoana. Não parece um mero ato administrativo — soa como um golpe na linha de frente da luta por justiça.

Melro tornou-se uma referência na defesa dos atingidos pela Braskem. Sua firmeza, independência e coragem incomodaram. E agora, sua retirada do comando do Núcleo central do caso levanta suspeitas legítimas: por que afastar justamente quem mais incomodava os interesses da multinacional?

Nesse contexto de comoção, a nota oficial da Defensoria Pública tentou, sem sucesso, vender uma imagem de normalidade. Ao afirmar que o “trabalho sério e contínuo (...) segue inabalável”, a instituição colide frontalmente com a percepção pública. Afinal, a retirada de um líder tão proeminente, responsável por conduzir um caso de tamanha complexidade e relevância, não pode ser tratada como um simples ajuste burocrático. Ainda que ele continue à frente do caso, mas, despojado do núcleo que centraliza o caso, com as eventuais implicações de esvaziamento que todos podem imaginar.

A decisão levanta a inevitável pergunta sobre os bastidores: o que realmente se esconde por trás dessa “dança das cadeiras”? Quem se beneficia com o afastamento de uma voz que se mostrou tão combativa e independente num tema em que quase todas as autoridades veem se eximindo?

A nota oficial da Defensoria, ao tentar vender normalidade, apenas agravou o desconforto. Em vez de esclarecer a questão, introduziu uma insinuação que aprofundou as dúvidas. A misteriosa menção a um “processo SEI” associado a uma “solicitação do uso de recursos públicos em benefício de terceiros” que não teria sido justificada, mais do que uma explicação, soa como um mecanismo de defesa, projetando uma sombra de dúvida sobre a conduta de Melro. Que precisa reagir.

Por sua vez, a alegação na nota de que o “trabalho sério e contínuo segue inabalável” colide com a percepção pública. A saída de um líder tão proeminente, em um caso de tamanha complexidade, não pode ser tratada como simples ajuste burocrático. Nem como acertos de contas pessoais. É comezinho. Ainda que Melro permaneça no caso, o esvaziamento do núcleo é evidente — e preocupante.

A sociedade de Alagoas, e em especial os afetados pela Braskem, têm o direito de exigir a verdade. A ambiguidade e evasividade da nota diante de decisão tão impactante é insatisfatória. É imperativo que as sombras que pairam sobre essa questão sejam iluminadas com holofotes potentes. Que a verdade venha à tona.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA


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