Jubileu 75: HU e a esperança por medicina de qualidade no SUS - II
Texto de Célio Rodrigues – Diretor-superintendente do Hospital Universitário da Faculdade de Medicina de Alagoas
“O espírito público de um médico deve ser inefável. A classe médica alagoana é herdeira e continuadora de admirável tradição de competência e honestidade profissional”, escreveu o governador Suruagy.
Instalado numa vocação, o médico não está: é médico. Uma vez médico, o é para sempre, como o pediatra Milton Hênio, que cuidou dos filhos do carroceiro e dos filhos do presidente da República.
Certa vez, um motorista de uma empresa de ônibus do interior pediu ao pediatra famoso que atendesse seu pequeno rebento, mas não tinha dinheiro para pagar. Ele aceitou.
Um dia, passados os anos, a secretária alertou:
– Há aí fora um homem que deseja falar-lhe.
Entra um rapagão num terno bem cortado, acompanhado do pai, e diz:
– Dr. Milton Hênio, hoje nada venho lhe pedir. Venho lhe convidar para almoçar comigo no Itamaraty, na solenidade de minha formatura como diplomata, já nomeado para a Áustria.
O pediatra irrompe em felicidade... Mas, notificado da medalha do Mérito Universitário, ainda se emociona ao rever o jovem acadêmico que visitava os doentes na enfermaria da Santa Casa, segurando a mão deles.
“O médico tem um remédio que nenhuma farmácia vende: a palavra do médico”, repete todo dia. Ele tem mais de mil afilhados neste estado, todas crianças que foram atendidas sem cobrar um tostão, e que, ao nascer, o tiveram como neonatologista.
A sra. Mirza, seu amor eterno, interpelou-lhe:
– Devias ser clérigo!
– Não – respondeu. – Senão, não podia tê-la como meu amor.
Continuando no HU, a pesquisa aumentou sua projeção internacional com a publicação de estudos randomizados, citados mundo afora. O índice h (que mede a produtividade e o impacto de um pesquisador) dos seus pesquisadores disparou.
Thaís Botelho, exercendo a medicina nos Estados Unidos, orgulhosa de sua alma mater, se pronunciou:
“Que honra receber uma homenagem tão significativa pelos 75 anos da Escola de Medicina onde iniciei minha trajetória. Foi meu avô Ulisses Botelho quem acendeu em meu coração a chama pela profissão!
A vida me levou para longe de minha terra natal, Maceió, mas nunca me distanciei das minhas raízes, e levo o nome da minha família e da Universidade Federal de Alagoas ao redor do mundo – como na Harvard Medical School, seguido pela residência na Temple University, na Filadélfia, Pensilvânia (EUA), onde constituí família com Andrew e Eva, filhos, e meu esposo médico”, concluiu.
A esperança de uma medicina de qualidade para todos os alagoanos reside, em grande parte, na capacidade de transformar o HU em um pilar ainda mais robusto e eficiente. Para isso, invocamos os políticos alagoanos a destinarem emendas para o HU, como fizeram Artur Lira e Teresa Nelma, o que resultou na aquisição de um acelerador linear para tratamento de câncer, que deve atender entre 5 a 7 mil pessoas só neste ano em Alagoas.
O Hospital Universitário da Faculdade de Medicina tem 184 residentes, sendo 142 em 20 especialidades médicas e 1 residência multiprofissional. Temos o único serviço de genética médica com cinco profissionais qualificadas. Há um ambulatório de doenças inflamatórias intestinais e o transplante de biota intestinal, que já beneficiou mais de 35 pacientes. Também detemos a única habilitação para cirurgia da obesidade na rede pública: há cerca de 700 operados e próximo de 1.000 obesos mórbidos no ambulatório, sob cuidado de equipe multiprofissional com 16 profissionais diretos.
Temos o único CACON da rede Ebserh e serviços de todas as especialidades, com extensão ao atendimento da saúde indígena, ambulatório trans e quilombolas. Realizamos quase 15.000 atendimentos mensais, 180 mil por ano e 1 milhão e 800 mil alagoanos beneficiados em dez anos.
Assim, a Faculdade de Medicina de Alagoas/Ufal, a primeira escola médica do estado, continua entre as vinte melhores escolas médicas do país, num universo de 390 faculdades de medicina, no mesmo arrojo dos seus fundadores visionários:
“Os homens necessários são os que sabem o que fazer em seu tempo”. (Hegel)
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA