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Constatação e gratidão

11/05/2020 - 16:14
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Divulgação
Constatação e gratidão
Constatação e gratidão

Certa feita, em viagem de carro pela linda Portugal, passamos pelos arredores de Águeda - sub-região da região de Aveiro - e lembramos que meu bisavô teria sido notário em um cartório daquela cidade. Adentramos e fomos explorando a pé sua rua principal, muito conhecida em determinado período do ano por ser decorada com sobrinhas coloridas, abertas e invertidas, formando um lindo teto. No meio do percurso, deparamo-nos com uma
escadaria, com degraus pintados em cores vivas, e resolvemos enfrentá-la. Chegando ao topo, na primeira visão, havia uma repartição pública e um cemitério. Enquanto fui à repartição tomar algumas informações, meu pessoal visitava o campo-santo. 

Logo após, segui seus passos e, quando me aproximei da turma, pediram que tomasse cuidado com meus parentes. Eram tantos que parecia uma pegadinha. Era Breda pra todo lado. Numa das lápides, até o nome da neta que nos acompanhava lá estava. Foi nesse momento que vi o porquê de meu avô, já no Brasil, pois aqui a língua o permitia, acrescentar ao nosso sobrenome o acento circunflexo. Era para diferenciar de tantas outras famílias, com o mesmo nome, descendentes de antigas e tradicionais comunidades judaicas da Península Ibérica. O nome teria sido adotado por advirem da cidade de Breda, na Holanda, sempre perseguidos pela Inquisição. Teriam fundado a aldeia portuguesa de Breda no distrito de Viseu - submersa para a construção de uma barragem - outra na Espanha - ao norte de Barcelona - e, na Itália, a Comuna Breda di Piavi. 

Súbito, meu pensamento volta-se para o Brasil e mais precisamente para a histórica Penedo, de grandes tradições europeias em seus casarios, quando lembro de dr. Francisco Sales, da Casa do Penedo, dizendo ter aparecido em trabalhos de recuperação, afrescos da imagem de São José sob a autoria de um Brêda. Prontamente, dirigi-me a Penedo e pude testemunhar, pela primeira vez, uma pintura de meu avô. Dizer que era dele, simplesmente, por causa do acento circunflexo, pouco adiantaria. Com fotos gentilmente cedidas pela Casa do Penedo, pude constatar a verdade. Sua assinatura na pintura tinha as mesmas características de outra, feita em uns versos oferecidos a meu irmão mais velho, também Carlos, a quem nominou de Carlos Terceiro. Meu pai seria o segundo. 

Não sabia eu que essa constatação serviria como prova de sua autoria, citada em 2015, na dissertação apresentada ao curso de Mestrado Profissional do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - IPAM - como pré-requisito para obtenção do título de Mestre em Preservação do Patrimônio Cultural pela professora alagoana Mariana Aline Barbosa Pereira, da Ufal - Campus Arapiraca, sob o título: “As pinturas murais no casario
de Penedo, Alagoas: um inventário da produção muralista do século XIX”.

Honrou-me, sobremaneira, ter, de alguma forma, dado minha contribuição ao seu trabalho quando ela diz que “Não há muitos casos de pintores com identidade conhecida em Penedo”. “No entanto há em uma das residências pesquisadas a assinatura de Carlos Brêda que, segundo informações orais seria italiano. Mas pesquisas realizadas pela Casa do Penedo afirmam que era um português. No artigo intitulado ‘Os genes e memes de meu avô’, publicado na Gazeta de Alagoas em 12 de março de 2011, seu neto José Maurício Gama Brêda explica que não chegou a conhecer o avô português, apenas sabe que chegou ao Brasil no final do século XIX e que realizou pinturas por todo o Nordeste”. À professora Mariana Aline Barbosa Pereira, a minha gratidão por atestar e introduzir, na História do Patrimônio Artístico e Cultural Brasileiro, as pinturas da autoria de meu avô.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA


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