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O provérbio do rei “Freirático”

14/09/2020 - 14:08
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Portugal sempre foi muito rico em provérbios e ditos populares que nós herdamos e multiplicamos em profusão. Muitos deles já sintetizam o que querem dizer sem despertar a curiosidade para o que levou a sua criação. Senão, vejamos: “o apressado come cru”, “a desgraça não marca encontro”, “o preguiçoso trabalha dobrado”. Ou ainda “mente vazia, oficina do diabo”, “gato escaldado tem medo de água fria”, “se ferradura trouxesse sorte, burro não puxava carroça” e por aí vai. Já outros, mais específicos, trazem histórias onde, às vezes, misturam-se realidade e mito. Foi o caso de um herdeiro do trono português que teve sua amásia e grande paixão assassinada e, ainda assim, quis fazê-la rainha após a morte da esposa, legítima ocupante do trono. Colocou seu esqueleto em uma liteira para que o povo beijasse sua mão. Recebeu como resposta o “agora é tarde, Inês é morta”, muito usado ainda hoje entre nós, mesmo sem saber sua motivação. 

Outra expressão é atribuída ao rei João V, muito conhecido como “Freirático” por sua apetência sexual por freiras. Com uma delas, Madre Paula, teve um grande romance e chegou a ter vários filhos que amparou e educou com esmero. Sua esposa era uma austríaca feiosa que, ao tomar conhecimento das traquinagens do monarca, procurou o bispo e confessou sua indignação por tal. Já sabedor das peripécias do amado amante e com o reforço da madame coroada, célere, o religioso foi procurar o rei reportando o que todo o seu povo vinha conversando à boca miúda. Para tornar-se agradável e tentar o perdão bispal, convidou sua santidade para umas férias no Palácio ao mesmo tempo em que passava ordens para seu cozinheiro. 

Após alguns dias de total conforto, contrastando com sua vida de hábitos frugais, procurou sua majestade para uma ligeira conversa. Disse que estava recebendo tratamento muito acima daquilo que merecia, porém tinha um pedido a fazer. Que lhe fosse revisto o cardápio servido, pois desde o dia em que chegou só lhe serviram galinha nas três refeições. Placidamente, o monarca impingiu-lhe o que depois se tornaria um dito popular: “Com meus mais sacrossantos respeitos, porém, ‘Nem sempre galinha, nem sempre rainha’”. Ou, como popularizou-se: “Todos os dias, nem galinha nem rainha”.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA


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