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Dos velhos aos jovens

24/09/2020 - 20:24
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Embora sem ainda sentir o sabor de seu néctar, minha convivência com ela vem de garoto. Sua embalagem, nos meus tempos, era em caixões de madeira fechados com pregos e reforçados com uma fita metálica conhecida como arco de barril. Como os caixões não tinham as divisórias criadas posteriormente, cada garrafa era envolta numa espécie de camisa de palha, para protegê-la dos choques. Era assim que a cerveja chegava até seus destinos nos anos 40/50. 

Convivi com esse quadro no armazém, como chamávamos, de Brêda & Irmão. Ressalte-se que a cerveja, entre nós, não tinha o consumo que ganhou com o passar dos tempos. Na casa de meu pai era consumido o uísque com água gaseificada em uma garrafa especialmente para tal. Colocava água potável nesta garrafa com um cartucho de aço com gás. Quando apertava o gatilho, explodia a espoleta e o gás se misturava à água.

A mocidade, no fim dos anos 1950 e começo dos 60, também não era ligada na cerveja. Nos conhecidos assaltos - festinhas nas casas de amigos e amigas - eram servidos uma batida ou um ponche, pois a finalidade precípua era dançar. Também gostávamos muito do rum. Apesar de existirem os dois mais famosos até então, Merino e Montilla, era esse último o preferido no Nordeste e que ficou famoso com o Cuba Libre. Foi aí que apareceu o Bacardi. Empresa cubana desde 1862, viu-se obrigada a emigrar depois da tomada de poder por Fidel Castro. No Recife, ficava na região onde hoje é o Shopping Beira Mar. Corrido de uma revolução, revolucionou nossos hábitos. Era mais claro que o Montilla e, ao contrário do concorrente, tomava-se mais com soda limonada que Coca-Cola. Para ganhar o consumo dos jovens, distribuía gratuitamente nas festas promovidas por estudantes para angariar fundos para a formatura.

Com ele, chegou um drink diferente: Daiquiri, nome da cidade cubana Daikiri. Sua receita era Bacardi, suco de limão e açúcar. Às vezes uns pingos de suco de laranja. Mais gostoso, quando colocavam o açúcar na borda do copo. Mesmo assim, em nossos dias, não se fala mais em rum.

Porém a cerveja, que estava na moita, entocada, esperando sua vez que não demorou muito, reciclou-se com elaborações diferentes vindas de suas origens, embalagens as mais diversas, facilitando assim seu maior consumo onde quer que o bebedor esteja, tomando conta da preferência de todas as gerações. Dos mais velhos aos mais jovens, com esse clima que só nos enche a boca de água. Agora, hão de perguntar: e o vinho? O vinho é outra história.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA


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