Eleições fraudadas com apoio de juízes-bandidos
Em 1990, dois fortes candidatos disputavam, a rigor, o Governo de Alagoas: Renan Calheiros e Geraldo Bulhões. Na Presidência da República, o ex-governador alagoano Fernando Collor declarou apoio a GB. A esta altura, Renan, que havia ajudado na eleição de Collor, rompeu com o presidente.
A eleição Renan x GB teve todos os elementos que podem ser classificados como uma enorme fraude. Mas a atuação de juízes eleitorais, travestidos de bandidos, bagunçou um cenário que arrastou Alagoas para as manchetes nacionais. O estado foi o único naquela época que não conseguiu concluir a votação no prazo.
A sucessão do governador Moacyr Andrade era tão escandalosa que foi denunciada pelo próprio presidente do Tribunal Regional Eleitoral (TRE), desembargador Hélio Cabral. “Alagoas viveu a maior fraude eleitoral de sua história”, disse em entrevista ao *Jornal do Brasil*, em 21/10/1990.
Ele determinou a recontagem de 70 mil votos no interior e na capital. As urnas eram de lona, o voto impresso e marcado com caneta. Anos mais tarde, o “caso Alagoas” obrigou o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) a digitalizar as eleições e as urnas. A Justiça Eleitoral abriu inquérito criminal para apurar a participação de três juízes: um de Maceió, outro que abrangia as cidades de Batalha, Belo Monte e Jacaré dos Homens, e outro responsável pelas cidades de Campo Grande e Girau do Ponciano.
As pesquisas apontavam que Renan ganharia a eleição no primeiro turno. O boletim do TRE, porém, dizia, descontados os votos anulados, que GB tinha ganho a votação. Mas o que chamou a atenção das fraudes eleitorais em Alagoas – nem tão diferentes assim do restante do Brasil – foram as denúncias envolvendo juízes. “O Sesc (Serviço Social do Comércio), onde foram apurados os votos da 1ª Zona Eleitoral, chegou a ser batizado pelo povo de Bolsa de Valores por causa do comércio de votos”, escrevia o *JB*.
Havia a urna prenhe e o voto formiguinha, candidatos que carregavam centenas ou milhares de títulos de eleitor para votar no lugar das pessoas. Um candidato a deputado estadual, por exemplo, subornou escrutinadores e juízes. Outro foi esperto, mas o juiz ainda mais: o candidato pagou um ‘pacote’ de 1.500 votos e assinou vários cheques, todos sem fundo. Furioso, o magistrado colocou o pacote debaixo do braço e sumiu com a mercadoria, neste caso, os votos.
Ronaldo Lessa, na época vereador de Maceió, dizia que o inusitado daquela eleição nem eram as fraudes porque as dúvidas ao redor do voto impresso existiam. Mas a quantidade de fraudes, por certo, parecia fazer parte de um roteiro cinematográfico.
Por exemplo: as urnas, quando chegavam às sessões eleitorais, estavam abarrotadas de votos, mesmo antes da abertura dos portões para o início da votação. A eleição alagoana era um laboratório de trapaças, cravava o *JB*.
O segundo turno da eleição a governador foi marcado para o dia 20 de janeiro de 1991, após fraudes comprovadas no primeiro turno e atestadas pelo TRE. Houve uma eleição suplementar em 16 de dezembro de 1990. Alagoas era o único estado brasileiro em que a eleição para o governo ainda não tinha sido encerrada, mas também o TRE, de forma inédita, não proclamou o resultado oficial do primeiro turno.
No primeiro turno, o índice de votos em brancos e nulos foi de 52%, número que cresceu para 54% na eleição suplementar. Resultado do apocalipse.
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA