colunista

Elias Fragoso

Economista, foi prof. da UFAL, Católica/BSB, Cesmac, Araguaia/GYN e Secret. de Finanças, Planej. Urbano/MCZ e Planej. do M. da. Agricultura/DF e, organizador do livro Rasgando a Cortina de Silêncios.

Conteúdo Opinativo

O passa moleque do "acordo" Mariana

27/10/2024 - 08:05
Atualização: 27/10/2024 - 08:10

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Quem acompanha de perto as questões relativas aos desastres provocados por mineradoras no Brasil, sabe que esse “acordo” de Mariana que o governo federal acaba de anunciar, mas do qual foi mero coadjuvante, é uma tremenda lorota. Uma sacanagem de alta octanagem com os cerca de 600 mil afetados pelo desastre gigantesco. E mesmo com os estados e municípios atingidos pelo crime ambiental sem culpados até hoje na justiça brasileira.

“O rompimento da barragem da Samarco deixou 19 mortos e lançou 13 mil piscinas olímpicas de lama tóxica na Bacia do Rio Doce, com impactos em Minas Gerais e no Espírito Santo. Foi apontado à época como o maior desastre ambiental do País. A barragem do Fundão estava sob a responsabilidade da Samarco - controlada pelas mineradoras Vale (brasileira) e BHP Billiton (anglo-australiana)”. Jornal o Estado de São Paulo de 25.10.2024.

O negócio foi tão escabroso a ponto do Advogado Geral da União, Jorge Messias sair-se com essa frase “Foi o negócio possível...”. Possível por que cara pálida? Foi uma ação que beirou o crime, orquestrada por uma gente muito suspeita que, para traduzir de forma clara para o leitor, concordaram em receber ao longo de 20 anos – isso mesmo, 20 anos – a reles quantia de 100 bilhões de reais (ou seja, 5 bi de reais por ano, e até onde se sabe, sem correção) pela enormidade do prejuízo causado nas cidades mineiras e do Espírito Santo. Um valor certamente muito inferior ao múltiplo de 5 que é o que se aproximaria do real prejuízo causado.

A Fake contada de que o montante do acordo alcançou o valor de 170 bilhões de reais (que é um nada frente ao tamanho do desastre), não passou disso, outro passa moleque nos cidadãos dos dois estados e no povo brasileiro. O que as mineradoras vão pagar daqui até 20 anos será tão somente 100 bilhões de reais! Um valor pelo menos 5 vezes menor que o real prejuízo causado por elas.

Vamos demonstrar isso. Apenas a ação movida pelos 600 mil afetados pelo desastre de Mariana na justiça da Inglaterra alcança o valor de 266 bilhões de reais em valores atuais, ou seja, 3 vezes mais do que o tal “acordo” vai pagar aos estados e à União (todos responsáveis pelo desastre!) O acordo fechado nesse caso teria de ser de 436 bilhões de reais... Que tal a entubada que as mineradoras aplicaram?

Num verdadeiro jogo de engana o bobo, as “autoridades” e as mineradoras participantes do acordo reservaram 10 bilhões de reais para aqueles afetados que aceitem a proposta imoral dos mesmos (se 100% dos afetados aceitassem, o valor a ser rateado entre eles seria de 16.666 reais para cada um. E isso em 20 anos! Seria de rir, não fosse o desplante e a indecência contidas numa proposta dessas.

O arranjo feito às pressas entre as mineradoras e os governos de Minas, Espirito Santo e Federal para zerar uma dívida que, em primeiro lugar é muito, muito maior do que o tal acordo prevê, tem endereço certo: servir de argumento das mineradoras na justiça inglesa de que já existe o acordo feito no Brasil, tentando engabelar o judiciário inglês. Não vão. A ação dos afetados naquele país continuará tramitando até uma decisão final. Estão correndo o risco de pagar duas vezes: no Brasil e na Inglaterra... O sabido acaba por encontrar outros ainda mais sabidos e, aí, dançam.

O presidente Lula da Silva num desses raros rasgos de sinceridade afirmou que toda essa celeuma teria sido evitada se as mineradoras tivessem gasto uns vinte milhões de reais para prevenir e evitar o ocorrido em Mariana. É verdade. Mas nesse país de corruptos e de uma justiça com lado, que é sempre o do mais forte, situações como a de Mariana podem voltar a ocorrer a qualquer momento. E adivinhem para quem vai sobrar o problema?

O Caso Braskem em Alagoas é a patente prova disso. A empresa destruiu parte significativa da cidade de Maceió, expulsou de casa 55 mil pessoas e enganou-as tomando-lhes a posse legitima de seus imóveis, atingiu de forma direta outras 85 mil residentes e cerca de 3 mil empresas existentes no entorno do desastre, impactou de forma direta a vida de oito municípios da região metropolitana de Maceió, causou um prejuízo gigante à cidade de Maceió e ao estado de Alagoas numa dívida que se aproxima dos 20 bilhões de reais até hoje não pagos e, pior, protegida por aqueles que por dever legal deveriam estar cobrando-lhe pelos crimes cometidos continua a cometer aberrações contra os cidadãos dessa cidade e os afetados. E nenhuma autoridade reage.

Utilizando das palavras do presidente da república: se tivesse gasto uns 20 milhões com prevenção, nada disso estaria ocorrendo. Mas como não fizeram, terão que pagar. Aqui ou na Holanda. E não é uma escolha de Sofia que se apresenta a ela. E as autoridades... bem são autoridades, né?

Êta país arretado!

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA


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