colunista

Alari Romariz

Alari Romariz atuou por vários anos no Sindicato dos Servidores da Assembleia Legislativa de Alagoas e ganhou notoriedade ao denunciar esquemas de corrupção na folha de pagamento da casa em 1986

Conteúdo Opinativo

Nada mudou

11/09/2023 - 15:39

ACESSIBILIDADE


É impressionante ver o jogo de cadeiras do governo federal. O presidente querendo agradar a todos os partidos para aprovar projetos de seu interesse.

Quando Ronaldo Lessa foi governador pela primeira vez, eu o encontrei numa solenidade no quartel do Exército. Ele não tinha maioria no Legislativo e tentava governar com a minoria. Preveni-o dizendo que não iria conseguir. Ele riu e não acreditou. Teve que conquistar a maioria.

Ouço estarrecida os comentários sobre as negociações dos partidos com o presidente. “Quero o Ministério dos Esportes com as loterias”, exige um político. Um outro deseja o Ministério do vice-presidente. Para aprovar as matérias de interesse do Lula, o Centrão pleiteia vários ministérios. O mais interessante é que se fala em dinheiro sem o menor constrangimento.

Comecei a trabalhar cedo na Assembleia Legislativa e via negociações sempre. Tudo girava em torno do dinheiro. Acompanhei a luta de Divaldo Suruagy perto de deixar o Poder Executivo. Tanto os parlamentares da situação, como os de oposição, participavam das negociações.

Certa vez, estávamos eu e um deputado amigo do governador assistindo a uma sessão, quando um parlamentar oposicionista saía devagar, arrastando-se em direção à porta. “Alari”, disse o amigo, “ele recebeu dinheiro para sair do plenário”. Rimos e o homem desapareceu. Essa figura ainda está viva.
Numa ocasião, em Pernambuco, um parente meu, engenheiro, foi nomeado para uma secretaria municipal. Eufórico, contou-me o fato. Alertei-o, tenha cuidado; por melhor que você seja, se aparecer um político querendo seu lugar, o prefeito trocará o secretário; você não vai ficar dois anos no cargo. Com um ano e meio minha previsão virou realidade.

Em Alagoas, existem hoje dois caciques políticos: Renan Calheiros e Arthur Lira. Brigam pelas prefeituras, pelas verbas que vêm para nossa terra e, principalmente, pela relação com o Lula. Espero que beneficiem o estado. O Renan Filho está conseguindo mandar dinheiro para Paulo Dantas administrar. O Arthur Lira deve estar correndo atrás de fazer a mesma coisa. É o jogo político mais antigo que conheço.

Gosto de contar velhas histórias vividas no Legislativo; são divertidas. Quando começou a vir o duodécimo para a Assembleia, cada mês vinha um valor maior. Como eu conversava com o governador, perguntei o que estava acontecendo e ele, rindo, respondeu: “Todo mês o Toinho me pede mais um pouco”. Foi nessa época que o Legislativo chegou a ter cinco mil servidores e entrou em decadência.

Atualmente, na ALE há poucos funcionários ativos, centenas de inativos e muitos comissionados. Com a nova lei de aposentadoria dos servidores estáveis, muitos vão se aposentar. Quantos ativos ficarão? O que fará a Mesa Diretora? O Supremo Tribunal Federal deu um ano de prazo para que os estáveis se aposentem. Aguardemos, pois.

Outro caso atípico que apareceu em quase todo o Brasil foi a tal da “rachadinha”, isto é, o comissionado recebe o salário e devolve parte ao chefe ou o divide com outros assessores. Ocorrem denúncias em vários estados e ninguém é punido. Na minha humilde opinião, ambos têm culpa: quem mandou pagar e quem recebe.

E assim, vai o Brasil! Nada se esconde mais e a principal filosofia é o “toma lá, dá cá”. Tudo feito às claras, noticiado pela TV. Os partidos políticos só votam com o governo se receberem algo em troca.
O Lula ganhou a eleição com uma pequena diferença e o apoio de vários partidos. Claro, que o Partido dos Trabalhadores foi o principal. Só que agora Lula teve que abrir o leque de “amigos” e está sendo criticado por prefeitos e governadores que o apoiaram.

Nada mudou então! Seja Lula, seja Bolsonaro, para aprovar projetos governamentais é preciso nomear ministros de diversos partidos.

O presidente afirma que ele manda nas decisões do país. Puro engano! Quem manda mesmo é o Congresso Nacional.

“Tudo continua como antes no Quartel de Abrantes”.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA


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