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É inimigo ? tudo contra

14/12/2020 - 13:58
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A operação Lava Jato, iniciada em 17 de março de 2014, até a metade deste ano de 2020 tinha recebido quase só elogios. Opositores, os petistas e aqueles atingidos pela ação investigativa da equipe de procuradores federais do Paraná e da Polícia Federal. Em inúmeras operações, logrou levar à Justiça um sem número de políticos corruptos e empresários corruptores, alguns presos e já condenados. Os resultados alvissareiros só foram possíveis graças a um magistrado federal, de Curitiba, o juiz Sérgio Moro. Houve excessos, claro, afinal qualquer ato humano tem lá suas imperfeições, e nem Moro nem os procuradores federais tinham, ou têm, pretensões à divindade. Mas os excessos não desdouram as vitórias.

Graças ao trabalho elogiado do juiz Moro, Jair Bolsonaro, em 2019, convidou-o a integrar o seu ministério, oferecendo-lhe a pasta da Justiça. Pessoalmente vi a aceitação de Moro com incredulidade. Afinal, deixar uma bela carreira na Justiça Federal para ser coadjuvante de um político, por mais preeminente que seja ele, é de fato enorme risco. Políticos dificilmente mantêm-se bem intencionados em suas promessas. Aqui acolá, parecem acordos espúrios que maculam o seu mandato. Isto aconteceu com o Governo Bolsonaro, aliando-se ao que há de pior na política brasileira com vistas a uma governabilidade mercanciada.

Além disso, um presidente autoritário e sem-ouvidos para a sensatez oferece menos confiança ainda. Novamente Moro sentiu isso na pele, terminando por exonerar-se do cargo, sob as críticas do presidente e dos seus. Iniciou o seu inferno astral. Por denunciar os verdadeiros motivos de sua exoneração – a pretensão do presidente de interferir em investigações da PF – foi eleito o inimigo número 1 de Bolsonaro, sua família, e dos bolsonaristas. Enfim, todo aquele louvor que merecera antes virou satanização. Moro agora, segundo notícias, parte para outras oportunidades, tornando-se diretor de empresa de consultoria americana. Algo muito apropriado a quem tem o seu currículo.

Inquietas vozes do contra já se agitaram. Membros do (in)existente gabinete do ódio se esmeram em críticas. Claro que as críticas fazem parte das democracias, embora o bolsonarismo não as aceite quando são contra si e seu líder. Mas, como alguém disse em alguma oportunidade, há críticas e críticas... Nesse contexto crítico, o bolsonarismo recebeu ajuda de prestigiado comentarista de determinada televisão. Pressuroso, o citado jornalista viu na atitude de Moro conflito de interesses: a empresa de consultoria da qual o ex-juiz e ex-
ministro será diretor tem como cliente a Odebrecht, que se encontra em recuperação judicial.

Segundo o festejado jornalista, claramente do time Bolsonaro, o conflito reside no fato de que Moro quando juiz condenara a empresa baiana por corrupção. Passou o bolsonarista por cima de fatos importantes para quem deseja fazer jornalismo isento: a condenação ocorreu há quase dois anos; Moro não é mais juiz; a empresa americana se propõe à consultoria, não à defesa da Odebrecht, que, por fim, não é a única empresa cliente da consultoria americana.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA


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