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A natureza do mal

23/08/2021 - 13:24
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Pedro França/Agência Senado
Vice-presidente da CPI, Randolfe Rodrigues
Vice-presidente da CPI, Randolfe Rodrigues

Terça-feira da semana passada, o senhor Randolfe Rodrigues, vice-presidente da CPI e crítico cáustico do presidente Bolsonaro, referiu-se a um livro sob o título “A natureza do Mal”, que atribuiu a Hannah Arendt, escritora judia alemã do pós-guerra. Não conheço essa obra mencionada por ele, mas tenho em minha estante “As origens do totalitarismo” da autora referida, na qual examina o antissemitismo, o imperialismo e o totalitarismo. 

Talvez o senador tenha confundido, ou sua referência àquele título tenha sido produzido pelo que se chama “ato falho”, isto é, estava em seu subconsciente considerar o mal o totalitarismo pretendido pelo presidente da República. E é verdade esse raciocínio pois a autora, já no prefácio da primeira edição, referiu que nos “estágios finais do totalitarismo surge um mal absoluto”. Acrescenta que dito mal é absoluto porque não pode ser atribuído a “motivos humanamente compreensíveis”. Naquele prefácio, Hannah ainda observa, com exemplo no nazismo e no socialismo de Stalin, que o totalitarismo mina a essência do homem por onde quer que tenha vicejado.

Bolsonaro é um governante de intenções totalitárias, como já tem demonstrado em inúmeras manifestações, seja no seu “cercadinho” ou via mídia eletrônica. Tais pendores têm ficado cada vez mais dominantes em sua personalidade, a tal ponto de despudoradamente pregar a invalidade das eleições futuras se o TSE não adotar o voto escrito, como ele quer. E vai além: desde já decreta não haverá eleições se sua vontade não for satisfeita. Ao par disso, no melhor Hannah Arendt, mina a essência das pessoas, induzindo-as ao erro através de exageros e até inverdades. Outra faceta é o seu comportamento vitimológico.

Todos estão contra ele, o único a saber o verdadeiro caminho da salvação! Adotou, nessa pandemia, atitudes humanamente incompreensíveis, tais como negar a solução da vacina contra a covid, recursar-se em um primeiro momento à compra das mesmas, produzir frases de efeito negativista como proclamar que a covid é apenas uma gripezinha e que muitos morrerão atacados por esse vírus, o que considera doentiamente normal, pois todos morreremos um dia. 

Herético, se compara humildemente ao Messias, pois embora sendo Messias não tem o dom de salvar ninguém. Outro dia, um amigo seguidor do bolsonarismo difundiu mensagem recebida de outrem na qual se observava com admiração a coincidência de o nome do líder Jair começa com o “J” de João Batista, de São José e de Jesus. Incomoda também saber que tantos amigos, inteligentes e preparados nos estudos, estejam naquela massa de pessoas cuja essência parece ter sido aniquilada pelos pensamentos negativistas do presidente.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA


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