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Golpismo democrático

28/11/2022 - 09:25

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Bolsonaro
Bolsonaro

Taí uma coisa impossível de acontecer, a não ser como criação do bolsonarismo. Aprendemos, desde os bancos escolares, que a democracia surgiu na Grécia, mas em sua forma atual não se parece em quase nada com a grega da Antiguidade. Todavia, um dos pilares dessa forma de governo surgiu naquela época, e permanece até hoje: o governo do povo, pela maioria dos cidadãos. Sólon, o primeiro filósofo e político que pensou nessa forma de governar, fê-lo para enfrentar a teocracia (governo dos deuses), a aristocracia (governo de alguns) e a autocracia (governo do tirano). A partir dele, com idas e vindas, a democracia firmou-se em definitivo entre nós desde a Revolução Francesa e o Iluminismo, definida por Abraham Lincoln como o “governo do povo, pelo povo, para o povo”. A conclusão óbvia é que o poder emana do povo. Mas como se revelará? Desde quando foi pensada, a manifestação democrática se dá por maioria, coisa que aprendemos nos bancos escolares adolescentes. Fora disso, não será democracia, mas anarquia, ou seja, governo de ninguém.

O fato definitivo é que a maioria do eleitores brasileiros escolheu Lula como presidente da República para o próximo quadriênio. Entendo que nem Lula nem Bolsonaro merecem estar na presidência. Há pessoas melhores. Todavia, não sou eu, não é o leitor, o eleitor descontente, nem as Forças Armadas que agora iremos dizer que ele não assumirá o cargo para o qual foi escolhido democraticamente, ou seja, pela maioria dos cidadãos votantes. É assim que está na Constituição de 1988, tão duramente conquistada por nós, os brasileiros. Assim deve ser. Fora disso, é golpe, e aquele que se sentar na cadeira presidencial após 1º de janeiro será usurpador, jamais o presidente constitucional. E continuará “presidente” enquanto quiser. Uma, duas, dez vezes, Hugo Chaves brasileiro. Não há outra verdade. O que me deixa abismado é ver pessoas comprometidas com a Constituição, por sua própria formação cultural e profissional, defensores disso. E nesse desiderato, influenciados por interessados no caos e na baderna, defenda a intervenção militar, forma enganosa de defender e apoiar um golpe, que só interessa a uns poucos agarrados ao poder e que foram preteridos pela maioria eleitoral. Na minha adolescência qualificavam-se pessoas assim como “inocentes úteis”.

Como chegamos a tal situação? Ficamos intelectualmente cegos? Ou abandonamos toda racionalidade? Ou fechamos a nossa mente e consciência para a razoabilidade? Talvez só a psicologia coletiva venha um dia a explicar. O fato é que nossa sociedade não parece mais tão sadia. Adoeceram-nos.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA


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