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Hitler revive

12/12/2022 - 13:32

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10 de maio de 1933. Os nazistas queimaram, em praça pública, centenas de milhares de livros, uma agressão à cultura e à ciência perpetrada por estudantes universitários alemães, estimulados pelo líder do nazismo, Adolf Hitler. Obras de Thomas Mann, Freud e tantos outros intelectuais de origem judia foram destruídas no falacioso intuito de purificar a cultura e a alma alemãs. Esse ato, consideram os historiógrafos, foi prenúncio do que viria a ocorrer na Alemanha de então, generatriz da Segunda Guerra Mundial que tanto sofrimento causou ao mundo e ao próprio país germânico.

Inspirado naquele 10 de maio de loucura nazista, o escritor norte-americano Ray Bradbury escreveu um romance ficcional sob o título Fahrenheit 451. Em uma hipotética América, onde era proibida a posse de livro pelos cidadãos, quem insistisse em guardar, portar ou ler livros seria considerado louco, passível de internação e até morte. As obras seriam queimadas, a cultura destruída. A ideia não era nova, como vimos já tendo acontecido na Alemanha nazista. Há, também, um antecedente histórico na Idade Média, mas não tão radical, quando a cultura foi praticamente negada à população, e até mesmo aos nobres e a parte do clero, escondida nos mosteiros medievais. A Igreja era a única guardiã do saber.

Vivemos no Brasil um conturbado período político. Talvez a Nação ainda não esteja em conflito interno, mas os governantes vêm trabalhando arduamente para que isso aconteça. Bombardeiam-nos com fake news, distorcem informações, tudo sempre no próprio interesse político. O admirável é que tenham convencido pessoas de cultura superior, de trato jurídico, a agirem contra o que há de mais sagrado em um Estado Democrático de Direito, a Constituição, seja ela de normas escritas ou consuetudinárias.

É no mínimo constrangedor ver advogados que por dever profissional haveriam de defender os preceitos constitucionais, usem sua inteligência e preparo técnico-cultural para desvirtuar o que foi concedido e conquistado pela Nação brasileira em 1988, após uma noite de 20 anos. Nesse cadinho, o desrespeito às instituições passou a ser atitude progressista, patriótica; o golpe militar uma busca constante como solução para uma eleição indesejada pela minoria. Nesse contexto, o que havia sido sepultado com a derrota do nazismo vem ressurgindo em alguns pontos do Brasil, a exemplo do que ocorre em vários países, muitas vezes sob o olhar indiferente das autoridades e de parcela dos cidadãos. O nazismo estará de volta, instalando-se em nosso mundo? Não é chegada a hora de nos preocuparmos com os sintomas dessa ressurreição espúria também em nosso próprio país?

Para aqueles que ainda não tiveram seus olhos abertos contra essas loucuras, esta semana advogados de Cascavel, no Paraná, incendiaram livros em praça pública, sob alegação de revolta com o STF e o TSE. Foi um ato brutal contra as instituições, contra a cultura, e, sobretudo, sobre os princípios constitucionais.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA


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