Quem muito fala...

Há alguns aforismos, ditados que têm como alvo os sujeitos palradores, aqueles indivíduos que falam pelos cotovelos, sendo esse mesmo um dito antigo a respeito: “quem muito fala, pouco pensa”; “em boca fechada não entra mosquito”; “perdeu uma grande oportunidade de ficar calado”, etc. Estes ditados vieram-me à mente ouvindo o presidente Lula. Aparentemente, como muitos políticos, ele não aprendeu nessa cartilha. Ou então sofre de megalomania, o que o faz esquecer os limites que lhe são impostos.
Esses comentários vêm a propósito do encontro de Lula com o primeiro-ministro da Alemanha, o senhor Olaf Scholz, empenhado em auxílio à Ucrânia, naturalmente contrário à Rússia. Lula aproveitou a ocasião para imiscuir-se em questão geopolítica que, se envolve o Brasil, nada tem a ver com os bombardeios constantes de cidades ucranianas, muito menos com os receios dos países próximos ao conflito. A pérola do presidente brasileiro: a Rússia errou em invadir o território de outro país, mas dois não brigam se um não quiser.
O que se pode extrair desse pensamento lulista? Um exercício de hermenêutica simples nos leva a concluir que Lula, entendendo que Putin não devia ter agredido a Ucrânia, mas se o fez, os ucranianos não deveriam defender-se, mas argumentar que não queriam brigar. Simples assim. Fim da guerra, a Rússia ocupando a Ucrânia a seu bel-prazer, a guerra terminaria, e todos seriam felizes. Ao menos até os russos invadirem o próximo país da região, que também não reagiria, e assim uma nova guerra sequer iniciaria. Não é mesmo uma solução sagaz, capacitando o nosso presidente ao Nobel? Malgrado a grande sugestão de inteligência rara, o que estarão pensando, ou dizendo, os poloneses, os eslovacos, os húngaros, os romenos, os tchecos, os moldavos?
Não sei o que tais povos pensarão do nosso estadista, elogiado pelo presidente Obama como “o cara”. Boas coisas não serão, suponho. Mas o fato é que Lula perdeu uma boa oportunidade de ficar calado.
Não são novidades atitudes como essa em Lula, sempre falastrão. Quem quiser fazer o registro de suas inconveniências, escreverá um bom livro. Mas a questão maior a perturbar esse início de governo é que o presidente ainda não desvestiu a roupa de candidato. Por esse motivo teima em trazer ao debate o ex-presidente Bolsonaro. Não esquece do opositor, a ponto de olvidar o seu próprio conselho: quando um não quer, dois não brigam.
Aliás, aos moldes do antecessor, prazerosamente desdiz os seus ministros, principalmente o da Fazenda, e cada vez que o faz, a Bolsa cai, o dólar sobe junto com a inflação. Não era assim Bolsonaro, sempre interferindo em áreas técnicas, mostrando ao povo o seu protagonismo? Claro que a última palavra será sempre do presidente. Afinal, ele foi eleito para decidir. Todavia, necessita sensatez para reconhecer que não é ele o centro do universo: deveria ponderar, ouvir os técnicos, os especialistas, quem entende do riscado. E fechar a boca. Assim procedendo, certamente não criará marolas no país.
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA