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Tiro no pé

02/05/2023 - 16:06

ACESSIBILIDADE


A figura bonachona do general Gonçalves Dias, parecendo cordata, e tolerante com os vândalos do dia 08/01, circulou nas redes sociais. Era uma figura patética, que depois se disse empenhada em administrar a crise fazendo nada, a não verificar cacos de vidro, conforme as evidências. Seriam essas atitudes consentâneas com a de ministro-chefe do GSI, o Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República? Se forem, o Brasil estará bem seguro nas mãos dos ministros de Lula. Ou melhor, segurança nenhuma.

Desde a ocorrência dos lamentáveis fatos de vandalismo, Bolsonaro e os bolsonaristas, em um movimento muito comum em que têm culpa no cartório, vinham levantando as suspeitas de que as manifestações nada republicanas na frente dos quartéis estavam infiltradas de lulistas. Possível? Tudo é possível no quartel de Abrantes. Mas improvável. Com o desfile ridículo de G Dias entre os vândalos, empurrando-os aqui ou ali para o segundo andar do Palácio do Planalto, o bolsonarismo, induzido pelo sempre atuante nas sombras gabinete do ódio, criou fôlego em sua tese. Seriam essas gravações a prova do que vinham afirmando em defesa dos pândegos do ex-presidente.

Como as crises em Brasília são resolvidas por CPIs, mistas ou não, os afogueados da oposição ao Governo Lula elevaram vozes nesse sentido. Afinal, tal CPI tinha o condão de derrubar o governo, sonho irresponsável de muitos, até de cidadãos considerados e autoconsiderados republicanos, e sérias pessoas. Afinal, a lavagem cerebral conduzida pelos bolsonaristas ainda não foi debelada, e promete persistir por muito tempo. Na esteira dessa euforia, dois personagens alagoanos, de proa na política brasileira, não perderam tempo em digladiarem o seu prestígio. O melífluo Renan e o fogoso Lira não conseguem superar a rivalidade alagoana. 

Ambos e a oposição, por sua vez, esqueceram de outra verdade brasiliense: as CPIs se sabe como começam, nunca como terminam. Parece que os eufóricos bolsonaristas acordaram para essa verdade. E para outra: quem tem telhado de vidro não atira pedras no do vizinho. Faz todo o sentido. Baixada a poeira, deram-se conta de que o ex-presidente, a depender da correlação de forças, pode ser atingido seriamente pelas investigações de uma CPI, ou CPMI. Agora sem o poder de barganha, rezando por um ostracismo que teima em não vir, Bolsonaro cada vez mais se afunda nas joias das arábias, além de ser enredado pelo vandalismo do dia 08/01.

Brasília é um ser em mutação constante. Nada do que foi ontem, hoje sobrevive, e o de hoje não suportará o amanhecer de sol forte da capital federal. O Governo Lula, que abominava a CPMI, agora tem o maior interesse em sua realização. A oposição, por sua vez, e o bolsonarismo em geral, já se posicionam em contrário, considerando não terem obtido o protagonismo na comissão. Um legítimo tiro no pé.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA


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