colunista

Elias Fragoso

Economista, foi prof. da UFAL, Católica/BSB, Cesmac, Araguaia/GYN e Secret. de Finanças, Planej. Urbano/MCZ e Planej. do M. da. Agricultura/DF e, organizador do livro Rasgando a Cortina de Silêncios.

Conteúdo Opinativo

Numa boa negociação não há vencedores

31/03/2024 - 13:06

ACESSIBILIDADE


O megadesastre provocado pela Braskem em Maceió fruto de mineração predatória em área de grande fragilidade geológica e em pleno subsolo da área central da Capital de Alagoas foi uma tragédia anunciada desde a implantação – tecnicamente errada – das primeiras minas nos idos dos anos 1970. Erro repetido sequencialmente nas novas unidades construídas – são 35 minas sem manutenção adequada e geridas de forma irresponsável - até o mês de março de 2018 quando ocorreu a tragédia em nossa cidade.

A empresa procurou negar a autoria enquanto pode e, ao mesmo tempo, se estruturou para comandar – com sucesso - o processo de negociações com os afetados e órgãos públicos beneficiando-se da incapacidade técnica dos mesmos nos três níveis de governo, impondo seus pontos de vista e interesses em detrimento dos afetados, de Maceió e de Alagoas através de meios, via de regra, “heterodoxos”.

Suas vitórias na quase totalidade dos casos são fruto de muita empulhação, ativas cooptações, nenhum escrúpulo em tergiversar, blefar e embustear, além de intensa atividade de bastidores e agressiva propaganda focada em distorcer os fatos a seu favor, não importando os “mortos e feridos deixados para trás”.

Os ataques desfechados são tantos, tão diversificados e avassaladores que não resta aos atacados, os afetados (o governo de Alagoas, os municípios impactados e as 140 mil pessoas), senão a opção de reagirem à infame campanha movida contra aqueles que apenas buscam recompor as suas perdas.

A criação de uma unidade especializada que unifique e centralize a defesa dos interesses de todos os credores da empresa em Alagoas, é um passo importante na direção de profissionalizar o até agora problemático “modus operandi” dos afetados na sua relação com a empresa e demais stackeholders envolvidos com o megaproblema, em especial com a justiça.

A unidade deve operar tendo como pressuposto caber aos reguladores, “regular” a regulada, e não o contrário como se tem observado neste caso. Não compete à empresa agressora definir o que, como e quando fazer e menos ainda impor o quanto quer gastar.

Mas é preciso ter presente a urgente necessidade de aceleração desse processo que fará refluir a multiplicidade de vozes e intervenções entre os afetados sem uma linha de trabalho definida e, pior, sem objetivos e metas a serem buscadas.

Trata-se de regra básica de gestão: sem uma cadeia de comando estratificada e hierarquizada e um plano/proposta bem desenhado e exequível, não se chegará a lugar algum. O risco de trilhar rotas erráticas se geometriza exponencialmente.

E o tempo é agora. Entendemos como fundamental “colocar o time em campo” antes da definição da venda do controle acionário da empresa sob pena dos credores correrem o alto risco de recomeçar do zero o processo até se chegar ao ponto atual quando o “café está no bule”, pronto para ser servido. Não se deve deixar passar a oportunidade.

A empresa quer e precisa desse acordo mais que tudo uma vez que corre o risco de ver – novamente – os seus credores desistirem por conta da não resolução do seu enorme passivo em Alagoas.

É, portanto, o momento certo para juntar “a fome com a vontade de comer” sob pena de um
lado, a Braskem amargar dificuldades na venda do seu ativo, e do outro, os afetados pagarem o alto preço político econômico, social e emocional de uma não resolução do problema com certa rapidez.

Está na hora de desarmar os espíritos e entender que numa boa negociação não há vencedores, nem vencidos, como preconiza William Ury, uma das maiores autoridades mundiais em resolução de conflitos. Que vai mais longe ao afirmar que o foco deve estar centrado na criação de novas e futuras alianças de longo prazo.

Na mesma linha, Jay Shetty considerado um dos influenciadores mais poderosos do mundo afirma que “negociar não é você contra o outro. São os dois juntos contra um problema”.

Seguir as “deixas” dessas duas figuras muito importantes no mundo atual nessa área é a sinalização correta para se chegar a um lugar comum que atenda as partes. Uma negociação ganha-ganha é a rota para isso.banner

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA


Encontrou algum erro? Entre em contato