A fonte secou
Não é por falta de insistência de nossa parte. Desde a reunião realizada no Senado Federal em maio de 2023 coordenada pelo Senador Renan Calheiros que insistimos na tecla de que a única possibilidade para os afetados alagoanos virem a receber pelos prejuízos causados pela Braskem, é pela via da negociação. Aqui no Brasil ou alhures.
E isso é tão nítido e cristalino como água de nascente. A razão central do nosso argumento à época era o cerco promovido pela Braskem aos órgãos de justiça em Alagoas cujas renovadas negativas aos pedidos formulados pelos afetados e pela Defensoria Pública Estatual, tem sido a regra. O que, vale dizer, beneficia os interesses da multinacional que destruiu 10% dos bairros de Maceió e gerou 140 mil vítimas em nossa cidade.
Mas tem outro componente que, desde sempre, dada as avassaladoras campanhas promovidas pela empresa (vendendo o que não entregou), sempre foi um óbice para deixarmos a nu a verdadeira face da Braskem em Alagoas, dada a passiva aceitação pela maior parte da sociedade local das versões vendidas pela empresa.
Não tenho cansado de expor aqui os números reais da Braskem em Alagoas para demonstrar o real tamanho da empresa em nosso estado e de sua rasa participação na geração de riquezas em nosso estado: meio por cento do PIB de Alagoas, pífia participação na geração do ICMS alagoano (em torno de 3%), e menos de 0,13% da raquítica força de trabalho alagoana com carteira assinada, e segue por aí. Daí não entendermos a proteção institucional dada por aqui a uma empresa que quase nada gera de riqueza por aqui, já nos sugou mais de 1 bilhão de m³ de sal-gema nos últimos 20 anos, destruiu 10% dos bairros da cidade e deve e não paga aos afetados.
Voltando a 2023, desde lá alertávamos para a fragilidade financeira da empresa no médio e longo prazo dado aos problemas de mercado que ela já começava a enfrentar. Pouco fomos ouvidos.
Resultado: nos últimos 3 anos prejuízos de 19 bilhões de reais. O que obrigou o seu presidente a declarar este mês que a empresa levará até uma década para se recuperar da crise global que envolve seu principal produto. Exato como vínhamos insistentemente registrando nesse espaço.
Mas, como acreditar num simples economista alagoano quando a máquina de propaganda da empresa dizia exatamente o contrário?... Pois é, aí estão os resultados que vimos preconizando.
No frigir dos ovos, o que isso representa na prática para os afetados alagoanos? a) que a empresa não tem como pagar o mega passivo que tem junto a eles; b) a NOVONOR, o grupo controlador da Braskem também não tem como arcar com o prejuízo alagoano, estando inclusive em recuperação judicial; c) o passivo alagoano da Braskem atualmente é basicamente 3 vezes maior que o valor de mercado da empresa e; d) Ainda que os fatos narrados não estivessem acorrendo, os afetados ainda teriam pela frente o “paredão” dos órgãos de justiça envolvidos no caso.
A saída, como prego, é a negociação, só que agora com os grupos econômicos interessados na sua aquisição. Na Braskem, a fonte que era rasa, secou.
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA