Um caso perdido de auto-idolatria
O mundo inteiro de repente procura entender a “cabeça” de Trump. Se tivesse feito o dever de casa e lido a monumental biografia escrita pelos jornalistas Marc Fisher e Michael Kranish, cujo título é Trump Revealed (Revelando Trump, em português), ou mesmo um outro livro que o próprio “escreveu”, A arte da negociação, não estariam agora batendo cabeça tentando adivinhar o seu comportamento errático e suas decisões não menos absurdas.
Saberiam, por exemplo, que 40 anos atrás ele já defendia o tal do tarifaço como “solução” para os EUA (que ele tentou implementar no seu primeiro mandato, mas foi impedido pelo Congresso de maioria democrata). E que, quando ele se sente pressionado, “pula de banda” e joga a culpa nos assessores. Exatamente como fez agora quando percebeu que a maré da opinião pública mundial estava se voltando contra ele (houve também algumas razões mais palpáveis e ameaçadoras, como a ameaça de colapso dos títulos da dívida americana, mas isso pode ser assunto para outro artigo sobre os aspectos econômicos do tarifaço, este, trata do comportamento do homem por detrás daquela medida: Trump).
Por sua “trumpetada”, até mesmo o Americam Enterprise Institute, respeitável e famoso por seu conservadorismo, definiu-o como um “analfabeto em economia” — “que não entendeu as causas do déficit comercial americano (basicamente, um país que consome mais do que investe) e não consegue ler os sinais de perigo à frente, nem mesmo para si mesmo”. E mais não disse porque não foi necessário.
Dono de um superego que já o levou a inúmeras derrocadas (quebrou quase todas as empresas que liderou) e enrascadas (tem pelo menos uma dezena de processos em andamento e já virou criminoso condenado em outro, não cumprindo a pena por ter sido eleito presidente), Trump é no fundo um bufão louco por atenção, carente de aprovação 100% do tempo (chegava ao extremo de ligar para os principais jornais fingindo ser outra pessoa, para se vangloriar das suas namoradas, não importando o quão isso é de uma baixeza total). O que lhe interessa – sempre – é chamar a atenção.
Seu estilo onde a definição de extravagante é pouco para ele e seu caráter misógino, supremacista, xenofóbico, populista, arrogante, ególatra, petulante e mais uma dezena de adjetivos que seus detratores e até mesmo pessoas que foram próximas dele dão bem o tom de quem é o cara que preside a maior economia do mundo...
O momento (e a maneira irresponsável e desarticulada) como lidou com o tarifaço que impôs ao mundo deve ter sido para ele o ápice da sua egolatria. Suas frases ofensivas e impositivas dirigidas a parceiros comerciais de dezenas de anos, a ex-presidentes americanos e a todos que dele discordaram desde o início da chicana que ele está promovendo, faz parte do espetáculo que ele encena desde sempre. É um caso perdido de auto-idolatria.
Coitado do mundo.
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA