Uma lição ou mais discursos?
O que estamos vendo hoje é o colapso anunciado de um modelo nacional de “desenvolvimento” forjado para servir a poucos. Durante décadas, o Brasil têm sido refém de um pacto tácito entre políticos oportunistas e empresários com mentalidade dinossáurica, que bloquearam qualquer tentativa de modernização produtiva do país. Esses agentes, blindados por lobbies e privilégios, escolheram estagnar a Nação numa estrutura arcaica — dependente, concentradora e desconectada do restante do mundo. E é esse arranjo viciado que nos colocou na atual sinuca de bico: diante de sanções abusivas impostas pelos Estados Unidos, sequer temos fôlego ou estrutura institucional para discutir suas arbitrariedades. Não por falta de razão — mas por falta de autonomia.
A crise comercial provocada pelas sanções Trumpistas é apenas a ponta do iceberg. O Brasil não está sofrendo só pelas tarifas; está colhendo décadas de políticas comerciais fechadas, protecionistas e pouco estratégicas. Enquanto o mundo se conectava por acordos bilaterais e regionais, nós assistimos passivamente à formação de cadeias globais de valor sem fazer parte delas. Ou participando de inócuos BRICs, Mercosul... Manteve-se uma crença obsoleta de que fechar a economia protegeria a indústria nacional. Mas a realidade mostra que essa proteção virou um escudo contra o crescimento, a inovação e a competitividade. A indústria brasileira no geral virou um grande sucatão não competitivo.
Especialistas são unânimes: é preciso revisar as tarifas de importação, facilitar o comércio, reduzir a burocracia alfandegária e ampliar os acordos comerciais. Arejar o Brasil. A recente reforma tributária poderia ser uma aliada nesse processo, mas não será. E aí mais anos e anos de atraso: por que ela não virá acompanhada de uma abertura comercial planejada e gradual. Enquanto o mundo caminha para relações cada vez mais interdependentes, fica a cada dia mais claro que quem ficar de fora pagará caro. O Brasil já perdeu espaço nas exportações globais, viu sua indústria encolher no PIB, mas continua insistindo estupidamente nos mesmos erros que nos atrasa, empobrece e distancia do mundo desenvolvido.
Abrir-se ao mundo não significa abandonar o produtor nacional. Pelo contrário: é colocá-lo diante do desafio de competir com os melhores, com apoio do Estado e acesso à tecnologia, crédito e infraestrutura. E não a incentivos graciosos. Um ambiente menos burocrático e mais previsível ajudaria a atrair investimento estrangeiro e a estimular a inovação interna. O Brasil precisa parar de proteger ineficiências e começar a premiar quem produz com excelência. Reformar a política comercial é criar condições reais para que a indústria cresça com qualidade, livre-se daqueles empresários sanguessugas dos cofres da Nação, para que nossos produtos conquistem novos mercados.
Além disso, acordos bilaterais bem negociados podem garantir acesso preferencial a mercados relevantes, fortalecer o agronegócio, consolidar setores industriais e impulsionar serviços de exportação. É fundamental também integrar-se aos processos digitais globais, oferecendo plataformas modernas para comércio exterior e soluções logísticas competitivas. Hoje, seguimos com práticas desatualizadas e travamos nosso potencial. A crise com os EUA pode ser um alerta definitivo. Ou reformamos com coragem, ou ficaremos à margem de um mundo que não espera.
O contraste é evidente: enquanto o Brasil engatinha entre discursos autofágicos e estruturas emperradas, a China — também alvo das investidas de Trump — respondeu com pragmatismo, estratégia e inteligência comercial. Não apenas freou os excessos, como transformou a disputa em ganho geopolítico. O Brasil, ao contrário, continua atolado em um modelo que privilegia a dependência de mercados únicos, desvaloriza a inovação e relega a diplomacia econômica ao improviso. Se não rompemos com essa lógica extrativista e clientelista, seguiremos como figurantes num palco em que outros escrevem os roteiros.
E se alguém ainda dúvida, basta observar quem anda decidindo nossas relações internacionais. A crise com os Estados Unidos, longe de ser uma consequência casual, foi urdida nos bastidores por uma figura menor da política nacional — um deputado que, entre selfies e frases feitas, fez valer mais influência junto ao governo americano do que os próprios diplomatas brasileiros. Atuou como quinta coluna, sabotando os interesses nacionais para proteger o pai, um golpista declarado, das consequências legais de seus atos. E fez isso em detrimento dos demais 220 milhões de brasileiros.
Esse episódio é o retrato cruel de como o Brasil deixou de ter projeto de Estado e passou a ser governado por impulsos personalistas de miopia estratégica. Ter governantes desse naipe é condenar o país à irrelevância geopolítica. Não podemos mais perder tempo com protagonistas que se comportam como celebridades de rede social, nem com líderes que trocam a soberania nacional por salvação pessoal, ou palanqueiros embriagados responsáveis diretos pelo que está acontecendo.
É hora de escolher estadistas, não personagens. Líderes com visão de longo prazo, compromisso com a reconstrução institucional, e coragem para recolocar o Brasil no tabuleiro internacional como potência respeitada, não como satélite errante de interesses alheios.
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA