Das crises é que se geram oportunidades
Quando a instabilidade se torna rotina, os países têm duas escolhas: afundar na mediocridade ou reagir com lucidez. As grandes transformações da história quase sempre brotaram de momentos de ruptura — de crises políticas, econômicas e morais.
O Brasil vive um desses instantes cruciais, em que o colapso das lideranças tradicionais escancara a urgência de um novo projeto nacional. A oportunidade está posta. Resta saber se haverá coragem e inteligência coletiva para aproveitá-la.
Enquanto o mundo avançava em direção ao progresso, o Brasil permanecia estagnado. Estagnado porque foi governado por figuras medíocres, intelectual e moralmente, que emergiram nos momentos de ruptura institucional como consequência direta da ausência de lideranças racionais, comprometidas e modernas. Enquanto outros países desenhavam projetos de futuro, nós reciclávamos o fracasso, presos à incompetência, à corrupção endêmica e à falta de uma estratégia nacional verdadeira.
O Ciclo dos Vácuos Políticos: A anatomia do Atraso
1930 — Getúlio Vargas
A crise da República Velha criou o grande vácuo político que levou à eleição de Vargas. Que ao longo do seu “reinado” preencheu-o com autoritarismo, populismo e centralização. Embora tenha promovido mudanças estruturais, consolidou a lógica do poder personalista, em detrimento de instituições sólidas.
1956 — Juscelino Kubitschek
Surge como resposta emocional ao trauma do suicídio de Vargas. E para evitar que os militares voltassem ao poder. Promete crescimento acelerado com o “50 anos em 5”, mas ignora reformas de base e perpetua os vieses de um Estado inchado e vulnerável ao fisiologismo.
1961–64 — Jânio, Jango e o Golpe
A renúncia errática de Jânio e a polarização ideológica de Jango instabilizam o país. A ponto do vácuo político-institucional se esgarçar abrindo caminho para os militares se imporem novamente como solução autoritária à crise democrática.
1989 — Collor
Após a frustração da Nova República e o fracasso econômico de Sarney, Collor aparece como o “caçador de marajás”. Sem preparo, entrega escândalos e instabilidade e corrupção. Abre espaço para a redemocratização tardia e fragilizada.
1994 — Fernando Henrique Cardoso
Representa o único pouco avanço racional na era recente. Estabiliza a moeda e tenta reorganizar o Estado. Mas a sucessão de seu governo é engolida pela velha máquina partidária e pela corrosão da política tradicional.
002 — Lula
A frustação com FHC favorece o retorno ao populismo. Lula desperta esperanças sociais, mas seus governos estiveram sempre mergulhados em escândalos e fisiologismo. Recentemente reabilitado politicamente, perpetua o seu modus operandi e a polarização como projeto de manutenção do poder.
2018 — Bolsonaro
Fruto direto do antipetismo, radical, despreparado e de alma golpista, governa com confronto, desprezo institucional e corrosão da governabilidade. Amplifica tensões ideológicas e isola o Brasil no cenário internacional.
Um País à Margem do Século XXI
Com exceção pontual de FHC, todos esses ciclos repetiram o mesmo padrão trágico: lideranças populistas e despreparadas para o desafio Brasil, altíssima incidência de corrupção e ampla ausência de visão estratégica. Enquanto isso, o mundo não esperou. Em 1980, o PIB da China era inferior ao do Brasil — cerca de US$ 191 bilhões contra US$ 300 bilhões. Hoje, a economia chinesa é 8,2 vezes maior.
Esse salto não foi obra do acaso, mas de um projeto nacional consistente, baseado em educação técnica, inovação, planejamento estratégico e abertura comercial pragmática. Outros países emergentes seguiram caminhos semelhantes. O Brasil, por sua vez, permaneceu cativo de seus próprios vícios e recusou-se a aprender.
Com um executivo, sempre um feudo de interesses; o Legislativo, uma máquina de autobenefício, desde sempre esteve voltada para o próprio umbigo; e o Judiciário, cada vez mais politizado, perdido na vaidade institucional e na falta de contenção interna, este país não irá a lugar algum. Já fomos a 7ª maior economia do mundo, somo hoje a 12ª. E essa queda acelerada ocorreu em apena três décadas. Caminhamos, sim, para mais atraso, pobreza, subdesenvolvimento.
É preciso dar um basta na corrosão moral das instituições, na impunidade e na ausência de modelos republicanos duradouros.
Crise Global ou Gatilho para a Virada?
As pressões econômicas externas e os impasses diplomáticos não são apenas ameaças — são também espelhos de nossos erros. O tarifaço imposto por governos estrangeiros revela mais que nossa fragilidade comercial: escancara o despreparo técnico, o isolacionismo ideológico e a falta de estratégia das políticas públicas. A diplomacia foi convertida em palanque, e a gestão estatal em trincheira partidária. O Brasil se distanciou de suas alianças, perdeu interlocução nas mesas decisivas e tornou-se figurante onde deveria ser protagonista.
É hora de uma revolução — não retórica nem violenta, mas institucional e republicana. Uma virada que reconstrua o país por dentro, com racionalidade, técnica e ética. Que enfrente a corrupção com seriedade e pelo exemplo. Que modernize de fato o Estado com inteligência administrativa. Que reconecte o Brasil ao seu potencial econômico e moral. Que invista de forma contínua — e não episódica — em educação, ciência, sustentabilidade e cultura cívica.
Nada disso será possível sem lideranças lúcidas, com estofo intelectual, visão estratégica e compromisso com o país. Que saibam formar consensos sem cair no fisiologismo, e promover reformas sem sacrificar princípios. A urgência da mudança não está apenas nos indicadores econômicos, mas nos olhos da população, cansada da espera eterna por retorno que nunca vem.
Chega de extremos. Chega de personalismos. O Brasil precisa de projeto — e essa crise talvez seja o último aviso antes de, novamente colapsarmos as instituições.
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA