A incoerência de ser e o cinismo de negar
Na contramão da moralidade e em defesa da chamada “pauta bandida”, dois deputados federais do MDB de Alagoas votaram a favor da PEC da blindagem, proposta que cria um manto protetor para parlamentares que traem a confiança popular e se refugiam na impunidade.
A reação não tardou. O senador Renan Calheiros, líder histórico do partido e voz experiente no Senado, não poupou críticas: indignado, advertiu os dois parlamentares e os desautorizou publicamente, deixando claro que, sob sua liderança, não há espaço para insurgências contra a ética e a legalidade. Foi além: assumiu protagonismo na mobilização contra a PEC no Senado, conclamando colegas a rejeitarem a “blindagem para delinquir” e a anistia aos golpistas de 8 de janeiro, vergonhosamente pautadas pela Câmara.
Dos dois deputados, um preferiu o silêncio: engoliu em seco a reprimenda, calou e tentou virar a página. O outro, porém, encarnou a incoerência em estado puro: votou a favor da PEC, defendeu-a na Câmara, mas, após o puxão de orelhas, passou a atacar a própria proposta. Tentou culpar o líder partidário - “foi ele que mandou” e, cinicamente, buscou se apresentar como opositor da matéria que ele mesmo ajudou a aprovar.
Essa guinada oportunista tem nome: medo. Medo das eleições de 2026, nas quais sabe não dispor de votos suficientes para garantir a reeleição. Foi eleito pelo poder e pelo dinheiro público, não por um mandato construído com trabalho e dignidade. Agora, tenta reescrever a própria história, como se o eleitor fosse ingênuo a ponto de esquecer o erro cometido.
A política não pode ser instrumento de oportunismo, mas sim de transformação. Um mandato parlamentar existe para servir ao povo, fiscalizar governos, propor leis que melhorem a vida dos cidadãos e garantir que o dinheiro público seja usado com responsabilidade. Não há espaço para decisões tomadas com base em interesses obscuros ou para votações que beneficiam os poderosos em detrimento da sociedade.
A ciência política, quando aplicada com ética, ensina que o exercício do poder exige transparência, prestação de contas e compromisso com os princípios republicanos. Mandatos proativos não esperam ordens: criam agendas positivas, constroem pontes com a sociedade civil, debatem temas relevantes e enfrentam os problemas estruturais do país com coragem e independência.
Votar para o povo e não para si mesmo é compreender que cada decisão no Parlamento tem impacto direto na vida de milhões. Um voto responsável pode significar mais saúde, educação, infraestrutura e segurança. Um voto irresponsável, pelo contrário, gera retrocessos, injustiças e alimenta a descrença na democracia.
A história mostra que os políticos coerentes, éticos e comprometidos com a verdade resistem ao tempo e ao julgamento popular. Já os oportunistas são engolidos pela própria incoerência. O erro de hoje e os próximos que virão, serão lembrados na próxima eleição.
Política se faz com dignidade, e não com cinismo. É preciso devolver à atividade parlamentar o seu sentido original: o de representação legítima do povo e a construção de um país melhor. Os que não compreendem isso acabam sendo passageiros na história, lembrados não pelos acertos, mas pelos equívocos que cometeram.
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA