colunista

Elias Fragoso

Economista, foi prof. da UFAL, Católica/BSB, Cesmac, Araguaia/GYN e Secret. de Finanças, Planej. Urbano/MCZ e Planej. do M. da. Agricultura/DF e, organizador do livro Rasgando a Cortina de Silêncios.

Conteúdo Opinativo

Braskem na COP 30: o crime se veste de verde

02/11/2025 - 08:04
Atualização: 02/11/2025 - 08:06
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Daqui a 7 dias começa o espetáculo global da COP30 — o maior palco do mundo para corporações poluidoras se fantasiarem de defensoras do meio ambiente. Lá estarão, com pompa e marketing milionário, as maiores responsáveis pela destruição ambiental do planeta. E adivinha quem estará no centro das atenções? Ela mesma: Braskem.

A mesma Braskem que, com sua mineração irresponsável, destruiu literalmente 20% dos bairros de Maceió. A mesma que carrega um passivo bilionário — mais de R$ 20 bilhões — e segue caloteando milhares de credores alagoanos. A mesma que, até hoje, não foi responsabilizada por nenhuma autoridade deste país. Silêncio cúmplice. Impunidade institucionalizada.

QUEM PAGA A CONTA DA FARSA?

Muito se fala sobre metas climáticas, compromissos com o futuro e a tal “transição verde”. Mas pouco — quase nada — se diz sobre quem banca a COP30. Spoiler: são as mesmas empresas que mais poluem o planeta.

O evento é sustentado por um tripé de gigantes do setor petroquímico, energético e extrativista. Empresas que, enquanto patrocinam painéis sobre sustentabilidade, seguem lucrando com a destruição ambiental em escala industrial. A COP30 virou vitrine para greenwashing de luxo — um desfile de logotipos em nome de uma “sustentabilidade” que só existe no marketing.

É um teatro bilionário para gerar publicidade positiva, limpar a imagem de corporações tóxicas e garantir que tudo continue como está. Uma traição às verdadeiras causas ambientais. Um desserviço à justiça climática.

O MURO LOCAL DE SILÊNCIO DAS AUTORIDADES

Enquanto o mundo se reúne para discutir o futuro do planeta, o passado recente de Maceió segue ignorado por autoridades e negociado nos bastidores. Estamos a caminho de 8 anos do maior crime socioambiental urbano do país — e tudo continua em aberto. Nenhuma resposta. Nenhuma responsabilização. Nenhuma reparação digna.

Neste sábado, 1º, o Movimento Unificado das Vítimas da Braskem (MUVB) divulgou uma nota contundente cobrando respostas das autoridades. A lista de citados foi elaborada pelo próprio MUVB e expõe, com precisão, o tamanho da omissão institucional diante do desastre.

Em Alagoas:

  • Poder Executivo: Governador Paulo Dantas e Prefeito JHC
  • Poder Legislativo: Todos os senadores e deputados federais e estaduais
  • Poder Judiciário: MPF-AL, MPE/AL, TCE
  • Órgãos estatais: Defesa Civil Municipal, SEMARH, UFAL, IMA/AL

No Governo Federal:

  • Presidente da República
  • Ministérios dos Direitos Humanos, Minas e Energia, AGU
  • Agência Nacional de Mineração, Defesa Civil Nacional
  • TCU, CGU, DPU, CNJ, CNMP, Polícia Federal
  • Serviço Geológico do Brasil

Exceção honrosa: a Defensoria Pública Estadual, representada pelo Dr. Ricardo Melro — única entidade que tem lutado de fato pela solução desse mega problema.

O silêncio institucional diante de um alerta científico dessa magnitude é mais do que negligência: é expressão de um Racismo Ambiental que marginaliza populações pobres e periféricas, negando-lhes o direito à vida, à moradia, à reparação e à dignidade.

NEGÓCIOS ÀS ESCURAS: IG4 E A BRASKEM À VENDA

Enquanto mais de 120 mil vítimas seguem sem reparação, os bastidores da venda da Braskem avançam em ritmo acelerado. Petrobrás, Novonor e os bancos envolvidos continuam negociando como se o desastre de Maceió fosse um detalhe irrelevante — ou pior, inexistente.

A consultoria IG4, que representa os interesses dos bancos na transação, foi procurada para dialogar a partir de uma proposta ganha-ganha construída localmente, com base nas necessidades reais da população atingida. A resposta? Nenhuma. Silêncio absoluto. Desprezo institucional.

O futuro de milhares de famílias em Maceió segue soterrado sob o silêncio institucional e a lama da impunidade. O caso Braskem, o maior crime socioambiental urbano do Brasil, é tratado como um detalhe incômodo por aqueles que deveriam garantir justiça. Voltaremos a esse tema.

A SAÍDA SORRATEIRA SOB O ESCUDO DA IMPUNIDADE

A Braskem está deixando Maceió. A empresa não pode sair de Maceió como entrou — impune, blindada e lucrando. Até quando o escudo político, jurídico e financeiro que a protege permanecerá intacto e contra os alagoanos?

A troco de quê? De quanto?

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA


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