É professor adjunto da Universidade Federal de Alagoas (Ufal) e cirurgião especializado em cirurgia digestiva. Graduou-se em medicina pela Ufal (1980) e é mestre em gastroenterologia cirúrgica pela Escola Paulista de Medicina/Unifesp. Atua como docente e cirurgião na área de cirurgia digestiva da Ufal.

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Ele cuida da minh’alma!

25/07/2025 - 14:26
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– Ele cuida da minh’alma! Demissão pra ele, jamais – bradou Teotônio Vilela, o Menestrel, quando o filho Zé Aprígio pusera na lista de demissão o famigerado Zé do Cavaquinho, que não dava um murro numa broa, mas aparecia para receber a pecúnia. Catapultado a administrador-chefe da Usina Boa Sorte, emancipado que fora aos 17 anos para assumir tal função, dado o tino administrativo inato do jovem rapaz, pois dentro da usina diariamente, ajustava tudo, já que o velho Senador, no imbróglio de tantas atribuições políticas, não estava conseguindo pôr sua indústria nos trilhos. 

      – Vamos recolher os talões de cheque do papai, fazer um escrutínio de cada trabalhador. Na peneira, uma lista semanal era apresentada ao chefe. Quando Teotônio viu o nome do homem do cavaquinho na lista, deu a ordem: – Esse não! – Por que não – interpelou Zé Aprígio –, se é justamente o que nunca aparece no trabalho?

      – “ELE CUIDA DA MINH’ALMA!”

      Bela, belíssima a expressão do Senador, que se desnuda do seu SER para expor a necessidade do seu EU. Mas na existencialidade humana é de uma dimensão “urbi et orbi” – para os da cidade e os do mundo, em qualquer topografia que adotem. “A necessidade é a mãe de quase todas as coisas”, assinalou o bispo de Hipona, Agostinho. E essa era a necessidade de Teotônio: uma alma de Quixote, incrustrada num boêmio, que se aplacava no “Trovador Berrante”, o famoso bar do Zé do Cavaquinho, que a todos acolhia e com que criou seus treze filhos.

      Aos chatos, Zé do Cavaquinho estigmatizou: “espíritos de cururu”. Teotônio, grande amigo do boêmio, dizia que ele era um “ser ecológico”, ou seja, só vingava em Viçosa. Para Ticianelli, no seu blog “História de Alagoas”, era um virtuose como músico. Entre suas composições, a maioria delas de choros, listam-se: “Escorrego do urubu”, “Lagartixa”, “Caranguejo no altar” e “Brinquedo das meninas”.

      Certa vez, perguntado sobre como sobrevivia, respondeu: – Vivo de olhares e sorrisos. 

      Zé do Cavaquinho era um semeador de alegrias. Jamais o velho Senador o demitiria.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA


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