Os novos detalhes sobre trama executada por alagoano para matar presidente
Com previsão de lançamento em novembro de 2024, a biografia “Prudente de Moraes: o Santo Varão” (Ibis Libris Editora), da escritora paulista Thereza Christina Rocque da Motta, traz novos detalhes sobre a tentativa de assassinato de Prudente, primeiro presidente civil no período republicano (sucedeu o marechal Floriano Peixoto). O executor do plano foi o alagoano de Murici Marcelino Bispo de Melo, em 5 de novembro de 1897.
Prudente de Moraes recebia nas ruas do Rio de Janeiro as tropas que voltavam do massacre de Canudos, quando o anspeçada Marcelino Bispo, armado, avança contra o presidente da República. Dispara, à queima-roupa, contra o peito, mas a arma falha. O ministro da Guerra, marechal Bittencourt, avança para defender Prudente, mas é morto a facadas por Marcelino.
O livro de Thereza Christina, que é trineta de Prudente de Moraes, resgata a preocupação do presidente em manter o militar vivo. Afinal, ele era a chave para revelar uma antiga desconfiança: a existência de um plano, elaborado na surdina, para matar o presidente. A principal testemunha não poderia ser eliminada. Só que as investigações mostraram bem mais, preparando o terreno para uma conclusão escandalosa.
Os novos documentos levantados pela escritora e pesquisadora mostram que havia uma conspiração. O vice-presidente da República, Manoel Vitorino, mantinha contatos com o autor intelectual, Deocleciano Martyr. Faltava quem pegasse a arma para executar o serviço.
Marcelino era um fanático florianista. Leitor do jornal “O Jacobino”, admirava os textos do dono, Deocleciano Martyr, também seguidor do alagoano nascido no bairro de Ipioca, em Maceió, do segundo presidente da República. Marcelino quis conhecer Deocleciano pessoalmente. E se encontraram no jornal, em agosto de 1897.
Deocleciano percebeu o fanatismo e alimentou o discurso do ódio. Em breve, convenceu o alagoano a matar o presidente Prudente de Moraes. Acontece que no dia 7 de setembro Marcelino desistiu do plano. Deocleciano investiu mais energia. Disse que o militar seria o sucessor de Floriano Peixoto (que havia morrido em 1895). Fez ele jurar por Floriano e honrar a vida do alagoano, salvando os “bons republicanos que viviam por aí, na miséria”.
Convencido pela loucura de que era o mais florianista que os mais fanáticos seguidores do ex-presidente, Marcelino estava determinado. As tropas que executaram os brasileiros de Canudos marchavam pelas ruas, Prudente de Moraes assistia. Um grito ecoa da multidão: “Viva Floriano!” O militar sai das fileiras de seu contingente, avança sobre o presidente. Saca a arma. Dispara. O revólver falha.
Preso em flagrante, não se contava que Marcelino abriria o bico. E delatou o dono do “O Jacobino”, o vice-presidente Vitorino e José de Souza Velloso. Dois meses depois, Marcelino Bispo de Mello foi encontrado enforcado, na cela, em 24 de janeiro de 1898. Um aparente suicídio? As investigações realizadas por Thereza Christina descartam esta hipótese: os pés do alagoano de Murici estavam amarrados. Portanto, ele fora assassinado.
Em seu diário, Prudente de Moraes fica escandalizado com o tamanho da trama e os tantos personagens envolvidos: “O Conselho do Tribunal Civil e Criminal confirmou a despronúncia de Manoel Victorino, um dos principais, senão o principal responsável pelo atentado de 5 de novembro! É mais um grande escândalo judiciário. Pobre República que possui tais juízes!”, anotou em 11 de junho de 1898.
Havia mais gente por trás. E tantos mais apareciam, as instituições da nascente República se contorciam para salvá-los: “O parecer concedendo licença para serem processados pelo atentado de 5 de novembro de 1897, os deputados Francisco Glicério, Barbosa Lima, Alcindo Guanabara, Irineu Machado e Torquato Moreira, foi rejeitado pela Câmara em votação nominal, por 92 votos contra 85! Foi um escândalo sem qualificação possível, cujas consequências funestas sofrerá logo esta desgraçada República. Contribuíram especialmente para esse resultado os deputados mineiros, dos quais apenas 11 votaram pela licença”, escreveu o presidente em 30 de julho de 1898.
“A República nascia com uma mancha que nunca se desfez”, escreve a escritora paulista. O tempo ajuda a explicar o porquê.
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA