A esquerda chega à Prefeitura de Maceió
Após um longo período de revezamento no poder em Alagoas, Divaldo Suruagy e Guilherme Palmeira não controlavam mais os efeitos de um modelo exaurido, fora das novas exigências da redemocratização. Por décadas os dois influenciaram a política local, mas principalmente quem seria o prefeito de Maceió. Agora, ele era escolhido nas urnas.
O presidente Fernando Collor não resistiu no poder à série de acusações e sofreu impeachment. Foi afastado do cargo em 2/10/1992. Vinte e quatro horas depois, Maceió foi para as urnas escolher o futuro prefeito. Venceu Ronaldo Lessa, com 66,06% dos votos, disputando o segundo turno com José Bernardes. Era o primeiro prefeito de esquerda da capital, quebrando a hegemonia Suruagy & Palmeira indicando aliados.
Foi um caminho longo e desgastante de derrotas das oligarquias atreladas, naquele instante, a Collor, que não pisou em Alagoas para decidir as eleições. Os professores estavam em greve, o ano letivo de 1992 foi anulado e os servidores exigiam reajuste de 200%.
O efeito Collor dinamitou a candidatura de Augusto Farias a prefeito; Antônio Holanda, compadre de Collor, parecia ser mais assimilável e tinha apoio do governador Geraldo Bulhões. Teotonio Vilela Filho reunia o PSDB com vice do MDB, na coligação PSDB, PMDB, PPS, PC do B, PMN; Mendonça Neto (PDT-PR); Ronaldo Lessa (PSB-PT); Guilherme Palmeira estava com José Bernardes (PFL).
Bulhões fazia uma gestão ruidosa e sob ruínas. Ainda estava sob a sombra da fraude, quando venceu o pleito para Renan Calheiros. Ali a capital alagoana virou laboratório nacional da Justiça eleitoral: Exército nas ruas e instituições funcionando sob pressão, para reabilitar a credibilidade do voto.
As oligarquias tentavam sucesso com Teotonio Vilela Filho e José Bernardes. E Lessa, ex-preso político em 69 e 72, ex-militante comunista, engenheiro que ajudou na construção da ponte Rio-Niterói e do metrô carioca, voltou a Maceió estimulado pelo senador Teotônio Vilela, o velho. Elegeu-se deputado estadual, depois vereador.
No segundo turno, Vilela apoiou Lessa; José Bernardes reclamava: “Comecei a perder quando o Senado aprovou a cassação de Collor”, segundo disse ao Jornal do Brasil em 12/01/1993.
Lessa, afinal, era tratado como surpresa em um cenário dominado por GB. Mas no interior, Bulhões venceu 47 das 100 prefeituras. Pernambuco estava dividido entre a liderança de Miguel Arraes do PSB e o PFL de Joaquim Francisco. Na capital Recife venceu Jarbas Vasconcelos, do PMDB. O PFL perdeu a capital Teresina para o PSDB; o PMDB elegeu o sucessor em Fortaleza, que era oposição ao PSDB com Ciro Gomes. O ex-presidente José Sarney perdeu no Maranhão, mas se firmou senador pelo Amapá.
Em Alagoas, os eleitores escolheram candidatos não tradicionais. A família Farias perdeu 6 dos 17 municípios que tinha sob seu controle; o PFL de Guilherme Palmeira, aliado de Bulhões, ficou em segundo lugar. O MDB de Renan Calheiros (deputado federal) e Divaldo Suruagy (senador) ficou em terceiro. Em quarto ficou o PST de Denilma Bulhões, rompida com o marido Geraldo. Elísio Maia, tradicional coronel, que dominou por 45 anos cidades ribeirinhas ao São Francisco, perdeu influência e poder nas eleições. Os Malta – de Rosane Collor – também perderam espaço, assim como os Torres beijaram a lona em Água Branca, e viram a ascensão do PT.
Nove dias após a vitória de Lessa, seu irmão, o delegado Ricardo e diretor da Polícia Civil, foi assassinado na Rua Mem de Sá, em Bebedouro, após sair do Palácio Floriano Peixoto e tentar audiência com o governador. Não conseguiu. O delegado era um arquivo vivo. Chegou para a Polícia Civil por indicação do então governador Collor.
Dois dias após o assassinato do irmão de Lessa, o primo Audálio foi sequestrado na porta do Cemitério Parque das Flores, logo após enterro de Ricardo. Apareceu morto em um matagal, próximo ao Stela Maris. Nos próximos 20 dias, outras cinco pessoas relacionadas ao caso Ricardo Lessa seriam executadas.
O prefeito eleito reagiu e disse que o crime “atingiu diretamente a estabilidade do governo de Alagoas e criou um clima de terror em Maceió, principalmente entre os policiais”.
Era o poder e o sangue derramado.
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA