O altar dos Mendonça e o fim da dinastia
Várias gerações de uma mesma família estão enterradas na Igreja do Senhor Bom Jesus, na cidade de Matriz de Camaragibe, Alagoas, uma das construções mais antigas do Litoral Norte. A família? Os Mendonça, cuja origem também é portuguesa, mas se espalhou em Alagoas juntando outros sobrenomes como os Furtado, Ayala e Alarcão.
Há 200 anos quem carregava estes sobrenomes era temido e, ao mesmo tempo, reverenciado. Mortos, ganhavam espaço privilegiado: a nave da igreja, em direção ao altar, próximo dos olhos de Deus e das rezas diárias dos homens e mulheres. Por dois séculos quem entrava e saía da igreja pisava nas lápides dos poderosos do passado. Iniciativa do então padre Valério Brêda (mais tarde bispo da Diocese de Penedo) retirou as lápides da nave da igreja do Senhor Bom Jesus e transferiu para as paredes da sacristia. Manteve as ossadas onde ainda estão até hoje, sem, no entanto, a exibição pública, muitas vezes intimidatória e assustadora.
As lápides estão expostas de forma diferente: como objetos históricos, retratos de um tempo ligado aos dias de hoje através das plantações de cana-de-açúcar. Isso porque os Mendonça eram donos do antigo Engenho Maranhão, antigo município de Camaragibe, talvez fundado no final do século 18 quando José de Mendonça Matos Moreira foi nomeado conservador das matas, em 18 de março de 1797. Foi enterrado no engenho em 1826. Antes havia ocupado os cargos de Ouvidor Geral e Corregedor da Comarca de Alagoas.
Nascido em Portugal, foi juiz de Fora da vila de Odemira nomeado pelo rei D. José I em 1773. O ramo dos Mendonça enterrado na Igreja do Senhor Bom Jesus é ligado a Antônio Saturnino de Mendonça (1879-1945), também senhor de engenho. Está enterrado com a esposa Estefania Braga de Mendonça (1883-1948) e o filho, Antônio Saturnino de Mendonça Junior (1908-1995). Mendonça Júnior era poeta, escritor, nascido no Engenho Maranhão. Seu filho não está enterrado na igreja de Matriz de Camaragibe. Antônio Saturnino de Mendonça Neto (1945-2010), mais conhecido como Mendonça Neto, terminou a carreira política filiado ao PSOL. Também escritor e jornalista, era dos mais ferrenhos críticos de Fernando Collor. Foi deputado federal entre 1974 e 1994, filiado ao MDB, crítico da ditadura militar e, mais à frente, após o fim da bipolarização partidária e o enterro da ditadura, filiou-se ao PDT.
Morria o último representante dos Mendonça, sem o prestígio dos antigos donos de engenho, mas ainda com relevância na política.
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