Jornalista, escritor, colunista do Jornal Extra, Tribuna do Sertão e presidente do Instituto Cidadão.

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A tragédia tem culpados

19/05/2024 - 06:00
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O país ainda está impactado com a tragédia que se abate sobre o Rio Grande do Sul, com mortes e destruições como nunca aconteceu. O funesto evento que por muitos é chamado de “causas naturais” é uma mentira deslavada para acobertar um governador irresponsável, que, mesmo sendo advertido por entidades e autoridades ambientalistas, flexibilizou a legislação ambiental no estado. Um exemplo é o Código Ambiental que levou nove anos entre debates, audiências e aperfeiçoamentos e foi atropelado pelo Governo Eduardo Leite (PSDB) em 2019, primeiro ano de seu primeiro mandato. Seu projeto limou ou alterou 480 pontos da lei ambiental do estado. O governador ignorou todos os alertas de ambientalistas e mesmo de órgãos de sua assessoria (Secretaria de Meio Ambiente e Infraestrutura). A aprovação da lei era uma demanda do agro gaúcho e por aí já cabe imaginar os abusos e atropelos que formaram o rol de mudança.

O desastre previsto. O professor Francisco Aquino, do Centro Polar e Climático da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), em novembro do ano passado já havia chamado atenção para a probabilidade de ocorrerem novos eventos extremos em 2024, como tempestades extremas e inundações, o que infelizmente se confirmou. Ambientalistas afirmam que normas ambientais do RS foram enfraquecidas sob a gestão Leite. As mudanças mais danosas, segundo eles, são as que aumentaram brechas para uso de áreas de preservação, inclusive em margens de rios, e afrouxaram o controle do poder público sobre atividades com alto potencial de degradação.

Eles sabiam do risco. A pedido do governador, em 2020, a Assembleia do Rio Grande do Sul aprovou o novo código e mais recentemente, em janeiro deste ano, os deputados aprovaram uma lei que permite construção de barragens e outras obras de impacto em áreas protegidas, mais uma vez por pressão do agro gaúcho. A mudança deixou locais mais vulneráveis a enchentes. Para os ambientalistas, a lei incentiva o desmatamento de áreas próximas a rios, cuja vegetação serve para conter o volume e a força das águas e mais, a floresta absorve uma parte [da enchente] e quebra a velocidade [da cheia]. Quando o solo está nu, as águas não apenas correm mais livremente como arrancam o solo por onde passam, provocando erosão. O risco é que aconteçam enchentes cada vez maiores mesmo com chuvas menos intensas.

Sem aliados. Já não se faz mais aliados como antigamente e isso ficou claro na saraivada de críticas públicas, feitas por vários vereadores, no plenário da Câmara, contra a gestão e a própria figura da secretária de Educação, Jó Pereira. “Soberba, incompetente e arrogante” foram algumas das muitas expressões usadas para criticar a titular do cargo, por indicação do deputado Arthur Lira, nas negociações políticas do tome lá, dá cá. O vereador João Catunda foi além e “sugeriu” sua saída. No ar uma dúvida: o prefeito não tem o controle dos aliados, ou foi tudo combinado?

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA


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